(Folha de S.Paulo) Nosso passado escravista e senhorial deixou muitas marcas em nossa sociedade. Uma delas, das mais expressivas, é o trabalho das “empregadas domésticas”.
Elas constituem, segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho), um universo de mais de 7 milhões de trabalhadoras; mais de 90% são mulheres, das quais mais de 60% são negras.
Não têm jornadas de trabalho definidas. Por vezes chegam ao absurdo, pois nem sequer sabem a que horas começa o serviço e quando podem findá-lo.
Nossa herança colonial, em que a escravidão foi abolida sem que os negros pudessem migrar para o trabalho urbano e industrial nascente, fez com que parcela significativa dos ex-escravos transferissem a lógica da casa grande e da senzala para as famílias que os recebiam como novos servos.
Vivenciaram, então, um cotidiano onde predominava a servidão. E mais, a ampla maioria desse contingente (cerca de 70%) ainda hoje se encontra na informalidade.
Mas as mutações que afetam o mundo do trabalho também afetaram o emprego doméstico: a ampliação dos serviços e do comércio passou a absorver parte expressiva das trabalhadoras descontentes com a lógica da servidão e da burla.
Passaram a migrar para os “call center”, telemarketing, shoppings, lojas, restaurantes, hotéis etc. Tudo era melhor do que a profissão herdeira da escravidão.
Foram em busca dos estudos e de melhores qualificações. O resultado foi uma diminuição da força de trabalho disponível para o emprego doméstico.
Nos centros urbanos mais avançados, começamos a nos aproximar (ainda que a distância seja intercontinental) dos cenários existentes nos países do Norte: no máximo, podemos ter empregados parciais, alguns dias ou horas por semana.
Parte da nossa classe média, tradicional (para não falar dos grandes donos da riqueza), reclama: se temos valets nos restaurantes, se temos personal trainers para manter a forma, como viveremos sem empregados?
Parte dela conclui: com a ampliação dos direitos para as trabalhadoras domésticas, o desemprego vai aumentar e o azar será delas. Melhor, então, combatê-los.
A outra batalha das trabalhadoras domésticas, pelos direitos do trabalho, enfim começa a avançar. E, com isso, uma chaga começa a ser minorada.
Acesse o pdf: Batalha pelos direitos trabalhistas do segmento começa a produzir avanços (Folha de S.Paulo – 24/03/2013)