(Folha de S.Paulo) A escritora Lisa Appignanesi, diretora do Freud Museum e autora do livro “Tristes, Loucas e Más”, concede entrevista ao jornal Folha de S.Paulo em que fala sobre sua busca de compreender por que as mulheres são mais associadas às doenças mentais que os homens e como a psiquiatria lida com a fração feminina da população.
Em sua obra mais recente, há pouco lançada no Brasil, Appignanesi analisa casos de personalidades famosas, como a atriz Marilyn Monroe e a poeta Sylvia Plath. Leia a seguir trechos selecionados da entrevista:
Folha – A psiquiatria trata as mulheres de forma diferente?
Lisa Appignanesi – Sim. Desde o começo, as mulheres foram mais associadas à loucura e mais propensas à rotulação e ao confinamento do que os homens.
Até o século 20, elas não eram nem donas dos próprios direitos: eram submissas a seus pais e maridos.
Por que isso?
Mulheres sempre foram consideradas mais próximas do emocional, do irracional. E foram mais tolhidas, obrigadas a agir de forma socialmente mais aceitável.
A emancipação feminina não mudou esse quadro?
Não. Ter mulheres na área psiquiátrica melhorou muita coisa -pelo menos, elas passaram a entender melhor as pacientes do que os homens.
Por que as estatísticas ainda apontam mais transtornos mentais em mulheres?
As mulheres tendem a buscar ajuda médica para solucionar os problemas, enquanto os homens vão procurar soluções na violência, na bebida e nas drogas. Mas, à medida que a depressão passou a fazer mais parte da nossa cultura, os homens ficaram mais dispostos a procurar ajuda.
Nós mesmos estamos nos considerando menos normais?
Cada vez mais compreendemos a nós mesmos nos termos dos médicos e cada vez mais sofremos das doenças que eles designam.
Vamos pegar uma personagem como Anna Kariênina, de Tolstói, por exemplo. Ela é triste, mas não tem uma categoria diagnóstica ligada a essa tristeza. Hoje falaríamos dela -ou ela mesma se diagnosticaria – como portadora de um desequilíbrio químico chamado depressão.
Veja essa entrevista na íntregra: Desde o começo, as mulheres foram mais associadas à loucura (Folha de S.Paulo – 24/04/2011)