(Folha de S.Paulo) As ações da direção da Rede Globo para esfriar a trama do casal de rapazes homossexuais da novela “Insensato Coração” tiveram repercussão na internet e entre representantes de organizações de defesa dos direitos dos homossexuais, que lamentaram os cortes na novela, que era até então elogiada.
Por decisão da direção da emissora, foram cortadas as cenas que mostravam a mãe de um dos rapazes levando café na cama para os dois, que haviam passado a noite juntos. A Globo afirma ter cortado cenas de beijo e de afeto entre homossexuais a pedido do público e para evitar “exaltação”.
“Fico triste, estava me sentindo muito contemplado pela novela”, disse Toni Reis, presidente da ABLGT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais).
O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), ex-participante do “BBB”, da TV Globo, criticou a emissora em sua conta no Twitter. “A imposição de censura aos autores da novela e a recusa em representar a diversidade da sociedade ferem a Constituição.” Parte dos usuários rebateu Wyllys. “Ficção não está regulamentada na Constituição”, escreveu um deles.
A Globo disse que “a causa é a diversidade e o respeito às diferenças, e não propriamente homossexualidade ou heterossexualidade”. “A ciência -incluindo Freud- reconhece que a sexualidade, com suas variantes éticas e morais, é baseada na singularidade. Nossas tramas registram a afetividade e o preconceito, mas não cabe exaltação”, diz a nota. “Cabe, sim, combater a intolerância, o preconceito e a discriminação contra elas, o que temos estimulado cotidianamente inclusive por meio de campanhas. Porém, a livre sensibilidade artística é a única medida possível para delinear a ousadia criativa”, continua.
Segundo a reportagem, os autores da novela, Gilberto Braga e Ricardo Linhares, foram chamados para uma reunião com o diretor-geral de entretenimento da emissora, Manoel Martins, sobre a determinação da Globo para que a história dos homossexuais fosse completamente esfriada no folhetim.
Além do corte das cenas, os autores foram instruídos a não carregarem bandeira política, a pararem de fazer apologia pela criação de uma lei que puna a homofobia. Já as cenas engraçadas do personagem Roni (Leonardo Miggiorin) estão liberadas.
Leia também:
Emissoras no armário (Folha de S.Paulo – 24/07/2011)
“”Ao mesmo tempo em que há o reconhecimento de direitos, é uma sociedade ainda muito conservadora e que tem forças que usam a questão da homossexualidade como marco de diferença no campo político”, diz o antropólogo Sergio Carrara.” – Questão gay evoluiu na TV, dizem estudiosos (Folha de S.Paulo – 24/07/2011)
“O problema é que, assim como todo ano as organizações LGBT “inflam” e chutam para cima o número de pessoas presentes à passeata na Paulista, talvez os autores agora estejam “inflando” o espaço à temática e a seus personagens. O mundo real parece bem menos gay do que o que os novelistas querem” – Novelistas exageram na temática e perdem a mão, por Ricardo Feltrin (Folha de S.Paulo – 24/07/2011)
“Está desfocada a ideia de que os vetos das emissoras para baixar a bola da bandeira colorida foram provocados por uma overdose gay na TV. Eles não são nem maioria nem protagonistas das novelas. O que está em “close” não é supremacia, mas igualdade.” – Os gays não conquistaram sua cidadania nas telenovelas, por Vitor Angelo (Folha de S.Paulo – 24/07/2011)
Atores e novelistas das TVs Globo e SBT comentam a cena que gera polêmica há 20 anos e ainda é tratada como tabu no horário nobre: A novela do beijo gay, por Mônica Bergamo (Folha de S.Paulo – 24/07/2011)
Veja na íntegra:
Ativistas gays reclamam de censura em novela das 21h (Folha de S.Paulo – 20/07/2011)
Globo corta cenas e bandeira gay de “Insensato Coração” (Folha de S.Paulo – 19/07/2011)