(Opera Mundi) Iniciativa recebeu elogios e críticas na internet; para associação feminista, ação deve se espalhar por outras empresas
Meninas brincando com ferramentas e meninos com panelinhas: é assim que uma rede de lojas da França retrata a nova geração de crianças em seu catálogo de brinquedos para o Natal. O inverso também está presente, claro. A diferença é que a loja não faz distinção de gênero para os brinquedos. Nada de meninas limitadas ao universo doméstico e meninos associados a carros e soldados: todos aparecem se divertindo juntos com todos os tipos de brinquedos.
“Foi uma ideia muito natural. Os profissionais envolvidos começaram a se perguntar porque era sistematicamente daquele jeito, já que eles mesmos, pais e mães de famílias, viam que seus filhos brincavam com todos os brinquedos sem que fosse nenhum grande drama”, explica Thierry Desouches, representante da cadeia de lojas, que se chama “U”. Desouches afirma que o papel da empresa é apenas refletir a realidade atual. Os meninos vêem os pais cozinhando e as meninas observam as mães dirigindo, nada mais lógico do que copiá-los.
Catálogo de loja francesa que tenta evitar clichês sexistas; para representante da empresa, ideia foi “muito natural”
Porém, a revolução que já passou pelo mundo dos adultos e já faz parte do cotidiano de muitas famílias encontra barreiras no universo infantil. “É uma tentativa doentia de manipulação das crianças”, diz um internauta. Outros fazem coro e pedem boicote à loja. Alguns clientes apoiaram: “Como profissional de educação de crianças pequenas digo obrigada por este catálogo! Tomara que se renove todo ano e seja copiado pelas outras marcas!”, escreve uma consumidora.
Na página da empresa no Facebook, só sobraram os elogios, mas Desouches conta que o número de críticas que recebem ultrapassa os comentários positivos: “Você sabe, quando as pessoas estão satisfeitas geralmente não se dão o trabalho de escrever. Quem se manifesta é quem tem algo negativo para dizer”, argumenta.
No catálogo, meninos e meninas aparecem usando ferramentas de brinquedo
Na verdade, boa parte dos clientes sequer se deu conta da mudança espontaneamente. Para eles, a cena de meninas brincando de carrinhos e meninos, de boneca é relativamente comum na vida real. Nas lojas físicas, alguns pais e mães foram questionados sobre o assunto e só depois de alertados é que se deram conta do encarte. Quem percebe mais este tipo de alteração são justamente os clientes mais conservadores, que não conseguem aceitar a própria mudança na sociedade.
Revolução silenciosa
Mas, então se o novo modelo de catálogo é apenas um reflexo da sociedade atual, por que as outras lojas não seguem pelo mesmo caminho? “Sim, as outras lojas serão obrigadas a fazer igual daqui a pouco, não vai ter como fugir dessa realidade”, opina Marie-Noëlle Bas, da associação feminista francesa Les chiennes de garde. “É uma questão de tempo”, garante.
A publicidade precisa vender seu produto para um número máximo de pessoas. Por isso, geralmente não se dá ao luxo de levantar bandeiras polêmicas. Quando decidem incorporar um novo elemento, é porque normalmente ele já foi absorvido pela vida real com uma boa margem de segurança. Desouches assegura que não houve nenhum estudo para a aceitação do encarte e diz que a rejeição está restrita ao mundo virtual: “O resultado de verdade se vê nas lojas e a prova de que tudo vai bem é que as pessoas continuam comprando como sempre compraram. É simplesmente a evolução natural das coisas”, conclui.
Acesse em pdf: Meninas com ferramentas, meninos com panelas: loja francesa faz catálogo não sexista de Natal (Opera Mundi – 24/12/2013)