(O Estado de S. Paulo/Estadão.com/IstoÉ) Para a ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), Iriny Lopes, a propaganda de lingerie da empresa Hope, protagonizada pela modelo Gisele Bündchen, estereotipa a mulher como um indivíduo que precisa se valer do corpo para ter uma condição igualitária, ou não ser repreendida pelo companheiro.
“A propaganda caracteriza como correto a mulher dar uma notícia ruim apenas de lingerie e errado estar vestida normalmente. Essa definição de certo e errado caracteriza um sexismo atrasado e superado”, afirmou a ministra Iriny em entrevista gravada pela TV Estadão.
A propaganda mostra a modelo simulando duas maneiras de dar notícias nada agradáveis ao marido, como o estouro do cartão de crédito e que ela bateu o carro. Na primeira, ela está vestida formalmente; na outra, apenas com roupas íntimas. A secretaria pediu ao Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) a suspensão da peça publicitária. “A propaganda tem regras definidas pelas próprias agências e, na opinião da secretaria, ela violou uma dessas regras”, disse.
Na entrevista publicada pela revista IstoÉ, a ministra explica: “O problema é a indução de subalternidade. O comercial dá a entender que a mulher, para se proteger de alguma reação mais agressiva por parte do companheiro, precisa de uma imagem erotizada. Ela poderia conversar sobre aquele assunto vestida”.
Perguntada pela revista se não houve por parte da Secretaria uma “reação exagerada”, a ministra respondeu: “Na minha opinião, não. Dentro do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, nós temos um eixo muito importante que é a questão do uso da imagem. Temos também uma ouvidoria, para tomar procedimentos que considerem cabíveis. E há o Conar, que não pertence ao governo. A publicidade tem regras e parâmetros. Na nossa opinião e na das pessoas que enviaram suas mensagens solicitando que a secretaria tomasse providências, há um conteúdo sexista na publicidade e cabe ao conselho analisar e tomar uma decisão. É legítimo, o Conar serve para isso”.
Publicitário critica atitude de Iriny; feministas elogiam (O Estado de S. Paulo – 09/10/2011)
Adílson Xavier, presidente e diretor nacional de criação da agência Giovanni+DRAFTFCB, que criou a peça publicitária da campanha, intitulada “Hope ensina”, considera a atitude da ministra “tão fora de propósito que chega a ser cômica”. “É incrível a falta de percepção da realidade. O assunto não resiste a 15 minutos de conversa”, diz.
Já as feministas estão com a ministra Iriny. “Por que, para dar uma má notícia, a mulher tem de usar erotismo?”, pergunta Maria José Rosado, da ONG Católicas pelo Direito de Decidir. “A ideia de que a mulher tem sempre cartão de crédito à disposição não corresponde à realidade. Ao contrário, são elas as principais responsáveis pela economia doméstica”, defende Nalu Faria, da Sempreviva, ONG que integra a Marcha Mundial das Mulheres. Nalu acredita que, na propaganda, “a mulher é apresentada como alguém que não pensa”.
Veja também:
07/10/2011 – ‘Acredito no diálogo’, diz a ministra Iriny Lopes
07/10/2011 – Globo responde à ministra sobre sugestões para cenas de violência na novela
06/10/2011 – Em defesa da ministra e da SPM, por Diogo Costa
05/10/2011 – Bündchen também discrimina os homens, por Fausto Rodrigues de Lima
Jornalistas sobem o tom e descem o nível do debate
Sugestão de pauta: Repercussão da polêmica sobre a campanha “Hope ensina”
Leia essas matérias na íntegra:
Propaganda com Gisele mostra sexismo atrasado, diz Iriny Lopes (Estadão.com – 07/10/2011)
Iriny Lopes: “Nenhuma mulher gosta de apanhar” (IstoÉ – 07/10/2011)
A ministra que comprou briga com a propaganda (O Estado de S. Paulo – 09/10/2011)