(Blog do Noblat) O sociólogo Marcos Coimbra, presidente do Instituto Vox Populi, também escreveu manifestando sua opinião sobre a polêmica provocada pela iniciativa da Secretaria de Políticas para as Mulheres de acionar o Conar por considerar sexista a propaganda da fabricante de lingeries Hope. Leia trechos do artigo:
“Na mídia brasileira, dominada por veículos assumidamente “liberais”, a reação à iniciativa da SPM foi de completo repúdio. Em coro, aproveitaram a oportunidade para atacar seu inimigo preferencial, o “lulopetismo”.
A acusação foi de “interferência estatal”. Segundo esses veículos, a SPM estaria procurando exercer o papel de “tutora”, através de um gesto que deixaria clara a ânsia controladora do “lulopetismo”.
É a mesma “interferência” que haveria no comportamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), quando tenta impedir a propaganda de produtos nocivos à saúde. (Devem sentir saudade do “Homem de Marlboro”).
Esse tipo de “liberalismo”, característico de alguns segmentos da direita brasileira e comum nessas redações, não existe mais no mundo moderno (salvo, talvez, entre os conservadores radicais americanos, do “Tea Party”).
São contra políticas que quase ninguém questiona nos países avançados, de discriminação positiva e ação afirmativa. Negam a validade de instrumentos como a fixação de cotas para corrigir desigualdades de acesso a políticas públicas fundamentais.
Consideram risível que o estado reconheça o direito que as pessoas têm de ser chamadas de forma respeitosa. Condenam que agências como a SPM e a Anvisa questionem a liberdade de um anunciante dizer o que quiser para aumentar as vendas.
Ao solicitar ao Conar que suspenda os comerciais com a modelo, a SPM não conserta todo o sexismo que existe na propaganda brasileira. A questão é que esses vão além do “normal”: assumem um tom pedagógico e apontam o “certo” e o “errado”, mas deseducam.
Quem, de maneira provinciana, chama isso de “lulopetismo” deveria olhar para o resto do mundo. Ver, por exemplo, o Parlamento Europeu, onde se discute uma política de “tolerância zero” para com o uso de “insultos sexistas e imagens degradantes” na propaganda.
Por iniciativa de deputadas da Suécia (onde, tanto quanto se saiba, o “lulopetismo” não chegou), pretende-se, assim, evitar a cristalização de estereótipos de gênero, que impedem que a sociedade seja mais igualitária.
O tom patético nas críticas à iniciativa da SPM foi dado pela ideia de que ela negaria a “leveza de espírito e o bom humor” da “alma brasileira”. Como se houvesse apenas uma, monolítica e imutável, incapaz de aprender com seus erros, de evoluir e amadurecer.
Só se for para quem acha graça nas velhas piadas que ridicularizam mulheres, negros, indígenas, portugueses, nordestinos, homossexuais, loucos e deficientes.”
Leia o artigo na íntegra : Gisele e a política, por Marcos Coimbra (Blog do Noblat – 09/10/2011)