(O Globo, 21/01/2016) Rompimento de tradição secular irrita tradicionalistas e agrada ativistas dos direitos das mulheres
O papa Francisco rompeu com a tradição secular que proibia a participação de mulheres no ritual de lava-pés durante a Quaresma nesta quinta-feira. A iniciativa do pontífice irritou conservadores, mas agradou ativistas dos direitos das mulheres. Em uma carta para o departamento do Vaticano que regula os ritos de adoração, Francisco disse que a cerimônia deve ser composta por “todos os membros do povo de Deus”, incluindo mulheres.
O decreto do Vaticano estabelece que o ritual poderá ser realizado em “homens e mulheres, jovens e idosos, saudáveis e doentes, clérigos, consagrados e leigos”. Além disso, diz que padres devem instruir “fiéis e outras pessoas a participar consciente, ativa e frutiferamente” do ato — o que indica que a lavagem de pés poderia ter a participação de não-católicos.
Até agora, apenas homens ou meninos eram formalmente autorizados a participar da cerimônia, em que um sacerdote lava e beija os pés de 12 pessoas. A tradição relembra o episódio em que, segundo a fé católica, Jesus lavou os pés dos seus doze apóstolos.
Algumas paróquias da Igreja — que tem 1,2 bilhão de fiéis — já incluíam mulheres e meninas no ritual, que acontece a quatro dias da Páscoa. No entanto, a maioria dos países em desenvolvimento ainda segue as regras conservadoras da Santa Sé.
— Esta é uma grande notícia, um maravilhoso passo adiante — disse Erin Hanna, co-diretora da Conferência de Ordenação de Mulheres dos Estados Unidos, que promove o sacerdócio católico feminino. — Isto significa que a mudança é possível e as portas parecem estar se abrindo no Vaticano.
Alguns tradicionalistas, no entanto, advertiram que mudanças como esta poderiam levantar questionamentos sobre o sacerdócio exclusivamente masculino, como aconteceu na comunidade anglicana, que hoje encontra-se fragmentada em questões como a atuação das mulheres na Igreja e os casamentos entre pessoas do mesmo sexo.
Desde sua eleição em 2013, o papa tem incluído mulheres ao presidir o ritual de lavagem de pés, como já fazia quando era arcebispo de Buenos Aires. O pontífice já lavou os pés de muçulmanos em prisões italianas, o que foi considerado uma ofensa entre os tradicionalistas da Igreja e uma surpresa para os fiéis.
Acesse o PDF: Papa Francisco permite participação de mulheres em cerimônia de lava-pés (O Globo, 21/01/2016)