Situações como as que vivi (e vivo) podem começar a ser inibidas com a aprovação do PL de combate à violência política contra a mulher
(Carta Capital | 11/07/2021 | Por Manuella D’Ávilla)
Depois de enfrentarmos a máquina de produção e distribuição de notícias falsas de Bolsonaro em 2018, achei que nada poderia ser pior em termos de violência política de gênero. Naquela eleição, se entrelaçavam duas questões: o desconhecimento da sociedade e mesmo dos partidos políticos acerca da máquina de ódio da extrema-direita e a ideia de que as vítimas da violência de gênero são responsáveis pela violência que sofrem, bastava não ter feito “algo” que não estaria envolvida naquela situação.
Daí vieram as eleições municipais em 2020, em que fui candidata à prefeitura de Porto Alegre, e me provaram que sim, que a violência de gênero podia ser ainda maior e mais cruel, uma vez que os mecanismos de incitação ao ódio são cumulativos: a Manuela candidata não deixou de ser hipócrita, “drogada” e profanadora de símbolos sagrados do cristianismo, temas de fake news anteriores, de 2018. A isso se somaram novas violências, novas mentiras. Dias depois de a eleição terminar, mais uma vez pensei: “Não há como ser pior do que foi”. Tragicamente, assisti à Isa Penna sendo apalpada no plenário da Assembleia Legislativa de São Paulo.
O ano vira e a violência política segue sua escalada: Érika Hilton é permanentemente ameaçada, a vereadora Benny Briolli deixou o Brasil após ameaças de morte, eu e minha filha de 5 anos somos ameaçadas de morte e estupro, Jandira Feghali é alvo de repetidas ameaças, Talíria Petrone também. O caminho é sempre o mesmo: personificar para dar margem à leitura que é sobre uma de nós, sobre a escolha que fizemos individualmente, sobre a nossa vida e não sobre a vida de todas nós.
Situações como as que vivi (e vivo) podem começar a ser inibidas com a aprovação do projeto de lei de combate à violência política contra a mulher, que aguarda votação no Senado. É um primeiro passo que representa avanço. A violência política é um dos principais instrumentos utilizados para afastar as mulheres dos espaços de decisão e poder.