(UOL | 19/09/2021 | Por Mayra Cotta e Thais Farage)
Não importa a ideologia ou partido político das milhares de mulheres que se candidatarão a cargos públicos no ano que vem, parte dos desafios que enfrentarão serão materializados nos ataques à forma como escolhem as suas roupas. Independentemente de quanto poder uma mulher tenha, ela será sempre lembrada que não pertence àquele lugar através de ataques à forma como se veste.
Quem acompanha a política institucional sabe que as campanhas para as eleições de 2022 já começaram. Candidatos e candidatas estão decidindo sobre quais cargos disputarão, partidos estão se organizando internamente para definir suas estratégias eleitorais e a sociedade civil organizada se movimenta para conseguir pautar o debate público. Existe, contudo, um elemento deste processo que é especialmente desafiador para as mulheres: a roupa.
No mundo do trabalho em geral, e na política institucional em especial, a roupa das mulheres está permanentemente inadequada, como uma expressão concreta de um recado que nos é transmitido: que não pertencemos a esses espaços.
A partir dos problemas que surgem no momento de escolhermos nossa roupa para ir trabalhar, podemos nos aprofundar nas razões históricas, sociais, políticas e culturais que explicam este arranjo tão estruturalmente injusto para as mulheres.
Mayra Cotta é advogada especializada em gênero e professora na New School for Social Research, em Nova York; Thais Farage é consultora de moda, especialista em estética e gestão de moda pela USP.
São autoras do livro “Mulher, Roupa, Trabalho: Como se Veste a Desigualdade de Gênero”, em pré-lançamento no site da Companhia das Letras.