07/02/2011 – Dilma inicia mandato com marca própria e se afasta do estilo Lula

07 de fevereiro, 2011

Pouco mais de um mês após o início do mandato da presidenta Dilma Rousseff, a imprensa – nacional e internacional – tem mais elementos para avaliar seu estilo de governo.

(O Estado de S. Paulo) O jornalista José Roberto de Toledo escreve:

Guia ortodoxo dos mercados, o Financial Times descreve o início de Dilma Rousseff na Presidência como “seguro” e “encorajador”. Repórteres que cobrem o dia a dia palaciano acham-na “silenciosa”. Auxiliares a definem como “detalhista” e “exigente”.

São todas, obviamente, comparações com seu antecessor e patrono. Nessas descrições, Dilma faz um contraponto à imagem percebida de Luiz Inácio Lula da Silva pelo establishment financeiro, burocrático e midiático.

No estilo, é “sóbria” e “pontual”. Não improvisa. No discurso, é econômica, objetiva e fala de temas que Lula ignorava, como cortar gastos e sobre direitos humanos no Irã. Essa é a percepção sobre Dilma projetada em balanços de um mês de governo.

Tem tudo para virar o novo clichê presidencial.

Se Lula chegou a ser pintado como gastador, boquirroto e ignorante, a imagem em construção de Dilma parece mais a de uma CEO do que a de uma presidente (“presidenta” só se o governo flexionar também o gênero de gerentes e serventes).

A definição é de um operador anônimo dos mercados, citado pelo FT. Não deixa de ser curiosa a identificação do executivo financeiro com a nova presidente. É como se ela estivesse de um lado do balcão diferente do que onde Lula parecia estar.

Antes de assumir o figurino, Dilma deve lembrar que: 1) o mercado oscila e muda de ponta com mais rapidez do que o Corinthians sai da Libertadores; 2) Lula cultiva a imagem esnobada pela elite porque ela o aproxima da maioria do eleitorado.

A cada “gafe” presidencial apontada pela imprensa, o ex-presidente somava um pontinho na sua curva de popularidade. A manobra é ancestral, anterior à caspa falsa de Jânio Quadros. Mas o politicamente correto insiste em ignorar seus efeitos.

Dilma não é Jânio nem Lula. Não vai sacar um sanduíche de mortadela da bolsa nem disparar metáforas futebolísticas. Defronta-se com o desafio de projetar uma imagem popular sem ser populista. Ainda não conseguiu.

Na disputa do reajuste do salário mínimo, tem dado a impressão de preferir uma regra estável ao que poderia eventualmente render mais votos. Diferentemente do antecessor, corre o risco de deixar a bandeira popular (e populista) com a oposição.

Durante a tragédia na região serrana do Rio de Janeiro, Dilma foi precisa no timing e correta no discurso. Resta saber se causou empatia às vítimas e a quem estava assistindo.

Se tudo correr bem com a economia até 2014, ela poderá optar por apenas devolver o bastão ao antecessor na corrida pela Presidência, ou forjar uma liderança que a capacite a concorrer à reeleição com as próprias pernas.

Tudo passa pela imagem presidencial a ser construída por Dilma nesses quatro anos. O eleitor não elegeu o melhor CEO em 2010. Nem deve votar nele em 2014.

O que diz Dilma?

Desde empossada, a presidente fez 12 discursos e pronunciamentos, proferiu 16 mil palavras e adotou um discurso supostamente diferente do de Lula, a quem mencionou 24 vezes. O resumo pode ser visualizado na imagem que ilustra esta coluna.

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Se fosse para resumir em uma frase curta, com base nos termos mais repetidos por Dilma, o discurso dela poderia ser “Brasil, país de todos”. Não por coincidência, esse é o slogan do governo Lula.

Para ler mais sobre a fala de Dilma e comparar as nuvens de palavras ditas pela atual ocupante do Palácio do Planalto com as do antecessor, pronunciadas no mesmo período de governo, acesse o blog: http://voxpublica.com.br

Leia esse artigo na íntegra: A CEO e a presidente, por José Roberto de Toledo (O Estado de S. Paulo – 07/02/2011)


(O Globo) O comentarista político da Rede Globo, Gerson Camarotti, escreve:

“Com pouco tempo de mandato, a presidente Dilma Rousseff deu sinalizações claras de que não vai passar pela História como a presidente que apenas deu continuidade à gestão de seu antecessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ela deseja deixar sua marca própria nos quatro anos de governo e se diferenciar da administração anterior. Segundo ministros ouvidos pelo GLOBO semana passada, já há uma disposição da atual gestão de se afastar do discurso do continuísmo, que teve ênfase na campanha eleitoral.

– A alternância de estilo causa um aspecto positivo e oxigena o governo. Mas não vejo por que Lula ter ciúmes daquilo em que ele apostou – disse o governador Jaques Wagner (PT-BA), interlocutor próximo de Dilma e Lula.

– Não tem modelo pior ou melhor. São estilos muito diferentes. O Lula era palanqueiro e Dilma, não – diz o presidente do PT, José Eduardo Dutra.

Mas há o reconhecimento interno de que essas diferenças são mais profundas do que uma simples mudança de estilo. Em vários casos, há um confronto direto com o governo Lula. Isso fica mais evidente na condução da política externa. A quebra do continuísmo ainda aparece com força na condução da política econômica, na nova ênfase de gestão do governo e na relação firme com os aliados, nas negociações de cargos de segundo escalão.

Dilma não terá preocupação com a popularidade imediata. Não fará qualquer coisa pela reeleição. Essa é sua diferença. Vai se concentrar na administração do governo e evitar muito uma agenda congressual para não ficar dependente de aliados. Em relação à política externa, não tem ambição de ser um grande líder mundial, como Lula. Sem essa necessidade de ganhar projeção internacional, Dilma deve facilitar muito a retomada de uma política externa conduzida pelo Itamaraty – disse um ministro próximo a ela.

Itamaraty volta a ter mais independência

A declaração de Dilma na Argentina, de que o Brasil não precisa ter opinião sobre tudo no mundo, ao ser questionada sobre o Egito, causou desconforto entre antigos assessores de Lula. No Ministério de Relações Exteriores, a avaliação é que, após a política externa da “Era Lula”, o Itamaraty voltou a atuar de forma mais independente.”

Assista ao vídeo

Acesse o texto na íntegra: Dilma inicia mandato com marca própria e se afasta do estilo Lula (O Globo – 06/02/2011)


(O Globo) A jornalista Eliane Oliveira analisa:  

Não há área em que seja mais visível a diferença entre os governos Dilma Rousseff e o antecessor Luiz Inácio Lula da Silva do que a da política externa brasileira. A cara da presidente Dilma mostra uma elevação do tom e uma posição intransigente na defesa dos direitos humanos. O novo governo também demonstra buscar uma outra forma de relação com a China e também com os Estados Unidos. No primeiro caso, prepara medidas concretas e agressivas para resistir à invasão dos produtos chineses no mercado brasileiro e no segundo uma reaproximação. No Itamaraty, afirmam diplomatas, estão sendo sentidos novos ares.

Mudança, dizem integrantes do novo governo, é uma definição forte demais para o jargão da diplomacia brasileira. “Calibragem” é como preferem chamar o novo tom da política externa brasileira. Preocupados em não melindrar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com as novas diretrizes do governo, alegam que não só na área externa do governo, mas em outras também, a grande diferença é de estilo e não de política.

Nota forte sobre Egito marcou estilo Dilma

Aos poucos, demonstrações estão sendo dadas de que algumas práticas do governo anterior foram abandonadas. Ninguém poderia imaginar Lula dizendo, mesmo que discretamente, que “o Brasil não pode ter opinião sobre tudo”, como fez recentemente a presidente Dilma, na única viagem ao exterior feita até agora, à Argentina, referindo-se à crise no Egito.

No gabinete do novo ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, os sinais dos novos tempos são discretos, mas simbólicos. A tapeçaria com o mapa-mundi que ficava pendurada atrás da mesa do ministro – pano de fundo da maioria das fotos do antecessor Celso Amorim – foi trocada pelo “Guerra e Paz”, de Portinari. O mapa foi colocado na parede lateral do gabinete. No governo Lula, Patriota ocupava a secretaria geral do Itamaraty, segundo posto na hierarquia do ministério, e numa entrevista recente à revista “Veja” declarou que: “Continuar não é copiar”.

Entre os inúmeros sinais de mudanças que vêm sendo passados por Dilma desde a transição, o mais forte foi dado na quinta-feira passada, quando o Itamaraty soltou nota “deplorando” o que estava acontecendo no Egito a jornalistas brasileiros.

– Nunca tinha visto uma nota tão forte – comentou um experiente diplomata, afirmando que surge, no Brasil, um estilo diferente do de Lula.”

Leia na íntegra: Novo estilo de governar no Planalto ‘calibra’ relação com Itamaraty (O Globo – 06/02/2011)

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