13/06/2011 – A imprensa quer políticos fortes cercados por mulheres meigas?

13 de junho, 2011

(Agência Patrícia Galvão) Os diferentes adjetivos utilizados na cobertura sobre as nomeações das ministras Gleisi Hoffmann e Ideli Salvatti fazem pensar que o jornalismo brasileiro parece operar com uma forte expectativa sobre o comportamento das mulheres na política, esperando que elas sejam conciliadoras, ouvintes atentas, menos agressivas que os homens, menos competitivas, menos “tratores”. Parece haver, em relação às mulheres, um modelo idealizado sobre o comportamento feminino na política.

Ao mesmo tempo em que reconhecem que a política é uma área competitiva e agressiva, jornalistas e colunistas das editorias de Política e Poder criticam nas ministras atitudes consideradas exacerbadas para mulheres. Não estariam eles alimentando
uma visão arcaica, romântica ou mesma preconceituosa sobre as mulheres na política?

“Dez em cada dez das raposas mais felpudas com assento ou trânsito livre no Congresso apostam no fracasso do que batizaram de a 1ª República da Saia Justa, a experiência de termos no Palácio do Planalto os três cargos mais importantes ocupados por mulheres – a presidência, a chefia da Casa Civil e o ministério das Relações Institucionais.” –
A 1ª República do Salto Alto, por Ricardo Noblat (blog O Globo – 13/06/2011)

Elas Chegaram lá – O Palácio do Planalto parece agora o Clube da Luluzinha (O Globo – 11/06/2011)

A nomeação das ´inflexíveis´ Gleisi Hoffmann e Ideli Salvatti, por Melchiades Filho (Folha de S.Paulo – 13/06/2011)

“O risco de Dilma agora atende pelo nome de Ideli Salvatti. A sua nomeação provocou reações entre aliados e oposicionistas. ´É como apagar fogo com gasolina´”, por João Bosco Rabello (O Estado de S. Paulo – 12/06/2011)

A Agência de Notícias Patrícia Galvão ouviu especialistas no tema Mulheres na Política e colheu os seguintes comentários:  

A MÍDIA EXACERBA CARACTERÍSTICAS DAS NOVAS MINISTRAS

“Os comentários intolerantes e inflexíveis da grande mídia – não só nas notícias, mas nos artigos assinados por colunistas que se dizem progressistas – deixam muito visível o conservadorismo que se manifesta violentamente quando mulheres se colocam, dão um passo à frente. Ao exacerbarem as características das mulheres – prepotentes, inflexíveis, arrogantes – querem dizer, nas entrelinhas, que estão fora de seus lugares, que são inaptas para a política. Mais do que isso, há uma aposta de que elas não vão dar certo; como se a política fosse um mundo doce, das gentilezas, e não marcado por disputas, conflitos, asperezas. A imprensa faz uma reconfiguração do ambiente da política como se traços mais afirmativos e mais agressivos não existissem, quando são exatamente os que marcam esse mundo. Um homem no poder, ao se mostrar mais pacato, menos agressivo, é apontado como fraco, tanto que o ex-ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Luiz Sérgio, foi criticado e deixou o cargo exatamente por falta das características que, nas ministras, são exacerbadas e pejorativas. Raramente, um homem, ao assumir um cargo é julgado dessa forma; a mídia não exacerba suas características e aspectos físicos, mas pontua sua trajetória. Ambas Gleissi Hofmann e Ideli Salvatti têm história política.”

Clara Araújo, socióloga, pesquisadora de pós-graduação do Departamento de Ciências Sociais e coordenadora do Núcleo de Estudos sobre Desigualdade e Relações de Gênero, ambos da UERJ. Contatos: (21) 8441.2719 [email protected]

SEXISMO ESTAMPADO NA IMPRENSA

“O sexismo estampado pela grande imprensa só reflete o quanto a classe política brasileira é conservadora. Até Veríssimo, que é um dos mais brilhantes dos nossos jornalistas, escorregou no uso pejorativo da palavra “bonitinha” ao se referir à nova ministra da Casa Civil. O s novos acadêmicos e os não acadêmicos da imprensa têm revelado cotidianamente sua vulgaridade ao se referir às mulheres cuja competência, dignidade e brilho são características incontestáveis.”

Lena Lavinas – economista e professora associada do Instituto de Economia da UFRJ
Rio de Janeiro/RJ


PERDA DE TEMPO E DE ESPAÇO

“Vejo uma falta de prática da imprensa com essa nova situação, ou seja, um olhar machista por não estarem acostumados com tantas mulheres em cargo de poder e relevância. Buscam pautas paralelas e apelam para o estereótipo do feminino com comentários que não são feitos quando se referem aos políticos homens. Esse conjunto de observações sobre as ministras é reflexo da cultura política na qual a participação feminina é vista como incomum. Esta não é a questão central; não é o que realmente importa nem esta em jogo no desempenho delas. Portanto, há um desperdício de espaço (mídia impressa) e de tempo (mídia televisa), no qual poderiam estar destacando as propostas, metas, ações, e visão política das novas ministras.”

Gustavo Venturi, professor do Departamento de Sociologia da USP


Veja também:   
“Em apenas um dia, após Gleise Hoffmann ser empossada no cargo de ministra da Casa Civil, no último dia oito de junho, 1885 matérias na mídia online foram publicadas sobre o assunto. Nas redes sociais,  a notícia dominou 66% das mensagens postadas no Twitter, informa a empresa de monitoramente de mídia MITI Inteligência. (…) Quando estudamos o histórico de notícias sobre ‘mulheres no poder’, observamos um crescente volume de publicações. De 2008 a 2010 foram veiculados no ambiente online mais de 170 mil notícias sobre o tema”, conclui Elizangela” Grigoletti, gerente de inteligência e marketing da MITI Inteligência. – Termo “Gleise Hoffmann” dominou Twitter (Portal Imprensa – 10/06/2011)
Dilma começa a ‘controlar próprio governo’, avaliam analistas (G1 – 11/06/2011)
Dilma se cerca de mulheres no Planalto e agora tem um Ministério com quase um terço feminino (O Globo – 10/06/2011)
Saiba quem é Ideli Salvatti, a nova articuladora do Planalto (G1 – 10/06/2011)
Saiba quem é Gleisi Hoffmann, a nova ministra da Casa Civil (G1 – 07/06/2011)

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