(Agência Patrícia Galvão/ANDI/Observatório Brasil da Igualdade de Gênero) Estudo pioneiro revela o comportamento de 16 jornais de todas as regiões brasileiras na cobertura do tema Mulher, Poder e Decisão durante o ano de 2010.
A participação de duas candidatas competitivas nas últimas eleições presidenciais – Dilma Rousseff e Marina Silva – não foi suficiente para que a imprensa brasileira aprofundasse o debate sobre temas vinculados à agenda da equidade de gênero.
Temas como a participação feminina na disputa partidária e as políticas públicas de promoção dos direitos das mulheres ficaram fora do eixo central de interesse dos meios, sendo que, no período monitorado, 41% das matérias avaliadas tinham como foco as eleições.
A pesquisa integra uma série de levantamentos realizados pela ANDI – Comunicação e Direitos e pelo Instituto Patrícia Galvão, no âmbito de projeto desenvolvido com o Observatório Brasil da Igualdade de Gênero, da Secretaria de Políticas para as Mulheres do Governo Federal.
Outros destaques:
Cobertura ignora políticas públicas
As propostas de políticas e programas de governo voltados para as mulheres praticamente não aparecem no noticiário. Dos textos analisados, menos de 2% mencionam ações do poder público, como a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher, o Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres ou o Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial.
Da mesma forma, os veículos deixaram em segundo plano assuntos como a destinação de 5% dos recursos do fundo partidário para promoção da participação das mulheres na política e a necessidade dos partidos preencherem a cota mínima de 30% de candidatos/as para cada sexo.
Autoridades são as principais fontes de informação
Outro indicativo do interesse concentrado na disputa eleitoral está na escolha das fontes de informação. Representantes dos poderes públicos (48,57%) – com destaque para o Executivo e o Legislativo – foram os mais procurados pelos jornais pesquisados.
Embora o tema da participação feminina envolva polêmicas, a imprensa não primou pela multiplicidade de pontos de vista nesse noticiário: não mais do que 15% dos textos trazem opiniões discordantes.
Candidatas são julgadas pelo aspecto físico
A referência a aspectos físicos está presente em 14% do material estudado. São principalmente menções a cabelo, roupa, peso, maquiagem e cirurgia plástica das candidatas.
Já informações sobre a vida privada das candidatas, como estado civil, filhos/netos e prendas domésticas aparecem em 31,5% da cobertura.
Seminário irá debater visibilidade da mulher na mídia
Ao longo dos próximos meses, a ANDI, o Instituto Patrícia Galvão e o Observatório Brasil da Igualdade de Gênero irão divulgar mais três pesquisas com foco na abordagem da imprensa sobre questões de gênero. Os temas são Mulher e Trabalho, Mulher e Violência, e a posse da presidente Dilma Rousseff.
Os resultados completos serão debatidos no seminário Imprensa e Agenda de Direitos das Mulheres – uma análise das tendências da cobertura jornalística, organizado pela Secretária de Políticas para as Mulheres. O evento reunirá em Brasília, no dia 3 de outubro, diversos profissionais de imprensa e especialistas na agenda de equidade de gênero.