(HuffPost Brasil, 21/06/2016) Eu sou Carina Vitral, tenho 27 anos e sou estudante de Economia da PUC-SP. Em junho do ano passado fui eleita presidenta da UNE para uma gestão que trouxe a tona não só as pautas históricas do movimento estudantil, bem como a visão da universidade privada, aquela que detém 73,5% dos estudantes universitários brasileiros e que graças a políticas públicas como o PROUNI e FIES, mudou a cara da universidade no Brasil.
Outro dado importante que vale ressaltar é a forte presença feminina nas universidades brasileiras: Somos mais de 50% ocupando as salas de aula e, num futuro próximo, as tomadas de decisão no País.
Neste mês de junho nossa gestão comemora um ano de muita luta e ação nas ruas. Na mesma oportunidade a UNE também comemorou 34 anos da eleição da primeira mulher presidenta da entidade.
Tendo a honra de fazer parte desse rol de combativas lutadoras é inevitável não falar dessa temática em um momento tão oportuno como tem sido o das recentes mobilizações contra a violência sexista e sobre participação das mulheres na política em contexto de forte misoginia e retirada de direitos como o que vivemos.
Seja com o processo ilegítimo pelo qual passa a primeira mulher eleita presidenta da república, seja com os ataques e casos de violência sexual sofridas por mulheres nos mais variados campi universitários brasileiros.
Foi naquele 34º Congresso da UNE, em 1982, sob forte repressão do regime militar, que a estudante de Ciências Sociais, Clara Araújo, foi eleita a primeira presidenta da UNE. Era a voz de uma mulher que denunciava ao Brasil e ao mundo os desmandos da ditadura militar que interrompeu os sonhos e vidas de vários lutadores e lutadoras como Helenira Rezende.
Em 2015, fomos as primeiras a se opor contra a eleição de Eduardo Cunha como presidente da Câmara dos Deputados. Já sabíamos que os retrocessos atacariam, de forma especial, a todas nós. Nossa forte oposição deu origem a um dos movimentos mais bonitos dos últimos tempos: A Primavera Feminista. Movimento este que floresceu em milhares de jovens mulheres que foram às ruas em defesa do direito ao seu corpo e suas escolhas.
Historicamente, o mundo público sempre foi um espaço negado às mulheres. Seja na política, na ciência ou na economia, sempre fomos deslegitimadas como produtoras de conhecimento, economia e cultura. Mas, apesar de todos os constrangimentos, mostramos que não temos nada de recatadas e do lar e que sempre estivemos na luta. No movimento estudantil as mulheres sempre estiveram à frente das principais mobilizações.
Neste ano, a realização do 7º Encontro de Mulheres da UNE com a participação de mais de 3 mil estudantes mostrou a potência das mulheres na Universidade e no movimento estudantil e do tom acertado da UNE em investir no feminismo durante esses 13 anos de existência da Diretoria de Mulheres da UNE.
Recentemente as mulheres mostraram mais uma vez que não toleram que sejam desrespeitadas. Os atos #PorTodasElas, #UFGSePosicione ou #AviseQuandoChegar da UFRRJ, mostraram que mesmo depois de termos ocupado o espaço público as mulheres ainda têm de lidar como situações de assédio, na qual o estupro tem sua expressão mais forte.
Por fim, o golpe de Estado que tenta derrubar a presidenta eleita democraticamente mostra o caráter misógino de nossa sociedade.
Em 7 anos de mandato, Dilma foi atacada por todas as ferramentas do machismo. Os setores mais conservadores tentaram, de toda e qualquer forma, barrar avanços e a mídia a colocou como desequilibrada e inapta à gestão.
O que aconteceu com Dilma acontece com todas as milhares de brasileiras que ousam ir à luta em defesa dos seus direitos. Contudo, seguimos fortes e nas ruas contra os desmandos daqueles que judicializam nossas vidas. Estamos nas ruas em resistência e em defesa da democracia.
A partir de hoje tenho este espaço aqui no HuffPost, que será ponto importante de discussão não só para o movimento estudantil brasileiro, bem como da juventude que se identifica com as nossas lutas e causas.
Só a luta muda a vida.
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