Paris vota para eleger sua primeira prefeita

23 de março, 2014

(O Globo, 23/03/2014) Os parisienses começam a escolher neste domingo quem governará a capital francesa pelos próximos seis anos, no primeiro turno das eleições municipais no país. Por enquanto, parece haver uma certeza: o nome vencedor será, pela primeira vez, o de uma mulher. Entre os candidatos a ocupar o Hôtel de Ville, a sede da prefeitura, Anne Hidalgo, do Partido Socialista (PS), e Nathalie Kosciusko-Morizet — NKM, como é chamada —, da União por um Movimento Popular (UMP), emergem como francas favoritas para a disputa de um segundo e decisivo turno no dia 30. Se depender das pesquisas, a vantagem é da socialista, vice do atual prefeito Bertrand Delanoë. Segundo a mais recente sondagem do instituto Ifop, Hidalgo venceria o duelo final com 52% dos votos, contra 48% para NKM.

Anne Hidalgo (à esquerda) e Nathalie Kosciusko-Morizet disputam a prefeitura de Paris PATRICK KOVARIK KENZO TRIBOUILLARD / AFP

De 1959 a 2008, as eleições municipais francesas se caracterizaram por derrotas do partido no poder, exceção para os anos de 1971 e 1989. Mesmo que perca várias prefeituras para a oposição, o PS, na previsão de Bruno Cautrès, do Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences-Po), deverá manter Paris sob seu domínio, como em 2001:

— Nas grandes cidades se torna muito difícil para a direita ganhar eleições locais. A sociologia urbana, com categorias sociais superiores, cidadãos diplomados e muitos assalariados do funcionalismo público, favorece mais a esquerda do que a direita.

Todas as pesquisas desde dezembro de 2013 apontaram Anne Hidalgo à frente da principal rival. Kosciusko-Morizet, no entanto, não quer entregar o jogo antes da hora e tem procurado motivar seu eleitorado com todos os recursos ao seu alcance.

— Em três dias pode-se partir de longe e escalar o Mont Blanc — disparou em seu último grande comício esta semana.

Três fatores atuam contra o favoritismo de Hidalgo: a impopularidade do governo de François Hollande, seu colega de partido; uma eventual desmobilização de seu eleitorado por achar que o pleito já está decidido, e um alto índice de abstenção provocado pelo descrédito na política e nos políticos, avivado por recentes escândalos que envolveram a oposição mas também respingaram no governo.

Para o analista político Nicolas Sauger, todas as condições estavam reunidas para que a direita recuperasse a prefeitura após dois mandatos socialistas consecutivos. Além da queda de confiança no Executivo, o prefeito no cargo não concorre à reeleição, e há disputas internas na coalizão de esquerda, principalmente com os ecologistas. Mas ele também não acredita nas chances de vitória de Kosciusko-Morizet.

— A oposição não conseguirá reconquistar Paris. A aprovação dos anos Delanoë permanece forte, mas isso revela também a incapacidade da direita, que é ela mesma o seu próprio adversário.

Se as previsões se confirmarem, Anne Hidalgo, de 54 anos, filha de imigrantes espanhóis, nascida em San Fernando, reforçará sua legitimidade no seio do PS, mas, na análise de Cautrès, não ambicionará planos políticos nacionais futuros.

— Ela deverá seguir o mesmo caminho de Delanoë e ser exclusivamente prefeita de Paris. Trata-se de um cargo bastante visível politicamente, e as pessoas ainda têm em mente o caso de Jacques Chirac, que se serviu de Paris para promover seu projeto político nacional. Mas esse tempo está relegado ao passado, Paris não serve mais de trampolim — diz.

Abstenção pode ser recorde

Já o fracasso anunciado de Nathalie Kosciusko-Morizet, de 40 anos, se realmente ocorrer deverá, segundo o analista, deflagrar uma nova crise na UMP.

— Haverá um ajuste de contas. A UMP, mais uma vez, estará em uma posição difícil em Paris, sem ter encontrado um candidato que fosse apoiado de forma unânime pelos diferentes grupos do partido (NKM foi criticada por suas declaradas ambições presidenciais antes da campanha). Isso vai evidenciar a falta de uma estratégia de longo prazo.

Habitação, transporte, energia limpa, poluição, segurança, cultura e emprego entraram nos debates sem provocar vivas reações do eleitorado. Segundo os institutos de pesquisa, a abstenção pode atingir índices recordes no pleito, acima de 40% de não votantes. A eleição municipal de 2008 já havia pulverizado todos os recordes anteriores: 66,5% de abstenções no primeiro turno e 65,2%, no segundo.

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