Olhe para esta foto. O que você vê? Eu vejo uma quantidade desconcertante de pessoas iguais: homens, brancos, ricos. Eu vejo literalmente a cara do poder no Brasil, já que estes são os prefeitos eleitos e/ou que estão no segundo turno das eleições municipais nas capitais brasileiras. Dos 44 rostos, 3 são de mulheres. Uma foi eleita no primeiro turno e as outras duas disputam o segundo. Na melhor das hipóteses, seremos 3 entre 26.
(O Estado de S. Paulo, 06/10/2016 – acesse no site de origem)
Se você olha para essa foto e não vê desigualdade, não se sente desconfortável com isso e consegue dormir tranquilamente, está na hora de repensar alguns conceitos. Por que o total apagamento da mulher na política não nos causa estranhamento?
Nós mulheres não estamos nem perto de ocupar de verdade os espaços formais de política. Embora o voto e as candidaturas não nos sejam negados, faltam incentivos institucionais e sobram barreiras culturais para que sejamos verdadeiramente inseridas neste campo. Os partidos penam para conseguir preencher a cota de 30% de candidatas e, em geral, a porcentagem de eleitas é muito menor do que isso. O Poder no Brasil está nas mesmas mãos desde o início dos tempos.
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A equação é bem simples: se estamos fora do Poder, as políticas ali formuladas não nos contemplam nem são pensadas para nós. É o lógico: sem representantes, qualquer grupo é excluído das tomadas de decisão. Serve para as mulheres, negros, indígenas, LGBT.
Ter mulheres no comando não significa que automaticamente há preocupação com nossas pautas, mas a probabilidade é sem dúvidas maior. Da mesma maneira, é possível que homens sejam realmente comprometidos com a nossa luta por direitos e que façam muito mais por nós do que uma mulher conservadora. No entanto, nada disso tira a importância de ter mulheres na política. Não é caridade, não é favor, é obrigação. É o ponto de partida para começar a discutir qualquer coisa.
Qualquer representação abaixo da nossa porcentagem na população é injusta. No caso das mulheres, 51%. Por isso é tão importante escancarar qual o tipo de políticos que elegemos e lembrar que votar em pessoas iguais só perpetua a diferença abismal de poder entre homens e mulheres.
Ver essa imagem me lembra o quanto ainda temos que avançar. Me lembra como o empoderamento não está completo se não chega aos espaços de decisão. Me lembra que de nada adianta meritocracia quando partimos de pontos tão diferentes. Me lembra como nossa democracia é jovem, frágil e, se depender de alguns, cada vez mais excludente.
Só que se é excludente e se não tem mulheres, não é democracia.