Por uma universidade livre de machismo, por Debora Diniz

11 de novembro, 2016

Há quase 30 anos estou na UnB (Universidade de Brasília). Fui estudante, e agora sou professora. Passei por vários departamentos e tradições – da saúde ao direito. Em todos os lugares, encontrei hierarquia, modos antigos de dominação, e abuso de poder. Faltou-me antropologia para relativizar essas práticas, pois elas sempre me impressionaram e inquietaram. Mas só ontem, ao ouvir uma multidão de jovens mulheres, assustadas e exauridas, entendi o quanto é urgente falarmos da universidade livre das hierarquias opressoras e abusivas. Elas estavam juntas para acomodar o luto pelo suicídio de Ariadne Wojcik, ex- aluna do curso de direito da universidade. Na melancolia compartilhada, falavam de todas elas. Ao ouvi-las, me inquietei sobre o meu lugar como professora.

(HuffPost Brasil, 11/11/2016 – acesse no site de origem)

Eram dezenas de meninas, pequenas pelo medo e fortalecidas pelo encontro em bando, se posso assim descrevê-las. Muitas sentadas pelo chão, dezenas lacrimosas pelas lembranças de histórias suas ou das outras. Como são mulheres, a hierarquia e a dominação que rege o ambiente universitário – o professor que sabe e o aluno que aprende – se amplificam pelo patriarcado”. Sim, me deixem pronunciar esta palavra: a dominação universitária é patriarcal. Por isso, as histórias que ouvi são de desqualificação no pensamento por serem mulheres; de assédio sexual como moeda de troca para o que seriam conquistas de mérito na carreira acadêmica; de uso da transferência analítica como regime de controle. Nosso saber deve ser objeto de admiração para o aprendizado, jamais prática de controle.

women university

Foto: Gabriela Rondon. Luto na Faculdade de Direito. Universidade de Brasília.

Se a hierarquia universitária do saber ofende a todos na posição subalternizada do aprendiz, é às mulheres que a hierarquia se realiza como dominação de gênero. Por favor, não me desqualifiquem por usar linguagem que desconhecem e consideram perigosa ou descrevem como essa tolice de “ideologia de gênero, tais como feminismo ou patriarcado. Como professora, quero estar ao lado dessas mulheres para transformar o ambiente em que vivem os melhores anos da juventude. Quero falar de gênero na sala de aula, quero ouvir histórias de dominação e abuso sexual, quero espalhar para todos os cantos que a Universidade de Brasília será um espaço livre de dominação. À melancolia de ontem, somo hoje minha indignação e minha disposição para iniciar a travessia – enfrentarei com elas todas as formas de machismo na Universidade de Brasília.

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