‘#PrimaveradasMulheres’ mapeia historiografia do feminismo no Brasil

14 de outubro, 2017

Em 1968, um grupo de ativistas americanas protestou contra os absurdos padrões de beleza impostos às mulheres jogando objetos considerados símbolos de opressão no lixo: maquiagens, saltos altos e sutiãs –que, apesar da lenda, não foram de fato queimados.

(Folha de S.Paulo, 14/10/2017 – acesse no site de origem)

Ainda assim, o episódio consagrou a imagem da queima de sutiãs como principal metáfora do feminismo. Foi a partir de 2011, quando mulheres tomaram ruas e redes em escala global, que emergiu a nova iconografia do movimento, tão diverso e complexo em pautas quanto em representações.

O Brasil entrou nessa onda em articulações que ganharam corpo e voz ao longo dos anos, culminando com uma série de manifestações em 2015, que, por seu caráter iluminista e efeito cascata, foi apelidada de Primavera das Mulheres.

É esse o título do documentário de Antonia Pellegrino e Isabel Nascimento e Silva –a ser exibido na quinta (19), às 23h, no GNT–, que faz uma historiografia a quente do novo feminismo brasileiro ao mesmo tempo em que funciona como campanha de esclarecimento sobre o movimento e as muitas bandeiras contemporâneas.

“#PrimaveraDasMulheres” traça a cronologia das ações e manifestações que impuseram o debate da desigualdade de gênero, tratada de forma transversal, a partir da voz de suas principais protagonistas.

“O filme faz parte da estratégia de levar o debate do feminismo para um público que não é versado nele”, diz Pellegrino, 37, roteirista e uma das articuladoras das campanhas #MexeuComUmaMexeuComTodas e #AgoraÉQueSãoElas, que deu origem ao blog homônimo publicado no site da Folha.

Essas são duas das muitas hashtags que remontam a eclosão do novo feminismo no Brasil, que surgiu alinhado aos protestos globais da Marcha das Vadias, em 2011, e ganhou suas próprias cores locais.

O rastilho de pólvora virou explosão em 2015 com o alcance e a repercussão da campanha #MeuPrimeiroAssédio, com relatos de episódios de assédio sexual sofridos na infância ou pré-adolescência.

De lá para cá foram muitas outras campanhas: #MeuAmigoSecreto, #MulheresContraCunha, #BelaRecatadaEDoLar, #ViajoSozinha. Cada uma chama a atenção para um aspecto da violência a que as mulheres são submetidas, naturalizada por parte delas.

Esse feito se fez sentir até mesmo na diretora Isabel Nascimento e Silva, 29, que só passou a se reconhecer como feminista após o projeto. Ela é a curadora da plataforma multimídia Hysteria, criada como núcleo da Conspiração Filmes, que será lançada em novembro e vai acolher e difundir produções e narrativas femininas dirigidas não só a mulheres.

O documentário mapeia de feministas radicais a blogueiras jovens e articuladas, de ativistas transgênero a mulheres do movimento negro, “#PrimaveraDasMulheres” abarca as muitas vertentes da renovação feminismo e suas motivações.

Se a indagação de Sigmund Freud se restringisse às feministas brasileiras, “#PrimaveraDasMulheres” responderia a sua célebre questão: Afinal, o que querem as mulheres?.

NA TV
#PrimaveradasMulheres
Estreia do documentário
Quando quinta (19), às 23h, no GNT

Fernanda Mena

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