Princesas da Disney ainda influenciam percepção de adolescentes sobre papéis de gênero

24 de outubro, 2025 Portal Catarinas Por Ariele Lima

A psicóloga Carla Mikulski analisa como as princesas da Disney seguem impactando a forma como o gênero feminino é percebido e construído.

Por trás das coroas, dos vestidos e dos castelos encantados, os contos de fadas guardam mensagens que vão além do mito do amor romântico. No livro Para Além dos Contos de Fadas: Princesas e Gênero sob o Olhar de Adolescentes, da Editora Appris, a psicóloga Carla Mikulski investiga como as princesas da Disney, referências nesse universo, ainda impactam a forma como papéis de gênero são percebidos.

Para desenvolver a pesquisa, Carla elaborou um experimento inspirado nos reacts, formato de vídeo popular nas redes sociais. As adolescentes, de 14 a 17 anos, foram convidadas a assistir a diferentes filmes das princesas da Disney e a comentar livremente suas impressões durante a exibição.

As sessões combinaram momentos de reação espontânea e outros conduzidos pela pesquisadora, que propunha reflexões a partir das cenas assistidas. A diversidade de perfis entre as participantes — em idade, contexto social e relação com o universo das princesas — possibilitou análises mais amplas sobre como essas narrativas ainda influenciam a construção de gênero na adolescência.

Nos encontros, a psicóloga observou que, mesmo aquelas que são críticas e conscientes das questões de gênero, podem absorver mensagens mais tradicionais das princesas.

Um exemplo foi o da participante mais velha, que refletiu sobre os contos originais e trouxe discussões sobre consentimento e a submissão feminina nas histórias, mas ainda relativizou situações problemáticas, como o relacionamento entre Bela e a Fera.

“Ela disse que o amor entre os dois cresceu, e reproduziu a narrativa de “ele vai mudar”, “ela o transformou”. Isso mostra como essas mensagens são sorrateiras, mesmo uma menina crítica pode naturalizar certas ideias. Todas nós estamos sujeitas a deixar algo passar no filtro, por mais críticas que sejamos. E essa é a força do patriarcado, que se infiltra de forma sutil nas produções infantis ”, aponta a psicóloga

Carla Mikulski é mestra em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental, Terapia do Esquema e Psicologia Positiva. Sua trajetória une clínica e pesquisa, com foco em cultura, gênero e desenvolvimento humano. Além disso, ela integra o Grupo de Trabalho Relações de Gênero e Psicologia do Conselho Regional de Psicologia da Bahia (CRP-03). O livro Para Além dos Contos de Fadas é fruto de sua dissertação de mestrado.

Acesse a entrevista no site de origem.

Nossas Pesquisas de Opinião

Nossas Pesquisas de opinião

Ver todas
Veja mais pesquisas