Em ótimo momento no Barcelona, atacante da seleção afirma não ter condições para atuar em seu país
(El País, 15/12/2016 – acesse no site de origem)
Andressa Alves vive uma fase marcante em sua carreira: depois da passagem pelo Montpellier, da França, foi contratada como a primeira brasileira da história do futebol feminino do Barcelona, equipe pela qual pode encerrar a temporada de estreia como campeã europeia e espanhola. Nada mal para levantar o ânimo da atacante da seleção brasileira após o quarto lugar na Olimpíada do Rio, com sabor de decepção.
No último domingo, a atleta de 24 anos confirmou o bom momento. Na derrota do Barcelona por 2 a 1 para o Atlético de Madrid, pelo Campeonato Espanhol de futebol feminino, marcou o único gol do Barça. “(O Barcelona) é um clube super profissional. O estilo de jogo parece com o brasileiro, com muita técnica e posse de bola. Isso facilitou bastante minha adaptação. Pretendo fazer uma grande temporada e permanecer no clube”, conta ela ao EL PAÍS.
Atualmente, o Barça ocupa a segunda colocação do Campeonato Espanhol, com um ponto atrás do líder Atlético de Madrid, e está garantido nas quartas de final da Champions League, ou seja, entre os oito melhores times da Europa. A atacante do Barça fez dois gols em quatro jogos pela Champions e ajudou seu time a garantir a vaga nas quartas de final para enfrentar o Rosengard, da Suécia, equipe de sua compatriota Marta. “Estou muito ansiosa. Estamos pensando jogo a jogo e buscando espaço”, contou a atleta, sobre o confronto direto com a camisa 10 da seleção brasileira. Andressa não vê sua equipe como favorita, mas pondera que “avançar às quartas foi um grande passo”.
Sem futuro no Brasil, por ora
Ágil, dribladora e boa nas finalizações, a canhota é uma das principais atletas de uma nova geração que surge no Brasil, mas não acredita que pode atuar em seu país. Segundo ela, “a situação (no Brasil) é difícil pelos baixos salários, e por isso tantas jogadoras vão para a Europa para buscar melhores oportunidades para as famílias”.
A exemplo de Andressa, Marta e Cristiane, do Paris Saint-Germain (FRA), são outras brasileiras que se destacam na Europa. Cada vez mais comum, esse êxodo reflete a atual situação do esporte feminino no Brasil. “O futebol feminino no país ainda não tem o apoio que gostaríamos. Tem melhorado, mas ainda é muito pouco”, disse. “Faltam muitas coisas para alcançar o profissionalismo no Brasil: mais apoio de patrocinadores e mais transmissões dos jogos em TV aberta. Isso infelizmente não acontece, e, para haver investimento dos patrocinadores, as pessoas precisam ver os jogos”, analisou.
Nascida em São Paulo, Andressa não esteve na última convocação de Emily Lima, nova treinadora da seleção brasileira, para o Torneio Internacional de Futebol Feminino. Assim como ela, Marta e Cristiane também não foram convocadas. Por não ser um campeonato oficial da FIFA, o torneio que ocorre no momento em Manaus não obriga os clubes a liberarem suas atletas. Andressa falou sobre o peso que será para a primeira mulher a comandar a equipe nacional: “É uma grande responsabilidade, mas Emily é uma ótima treinadora, é madura e já trabalhou nas seleções de base, então se sairá muito bem”. Nas duas primeiras partidas, o Brasil venceu a Costa Rica por 6 a 0 e a Rússia por 4 a 0. Emily tem, até o momento, duas vitórias, com dez gols feitos e nenhum sofrido em dois jogos no comando do time brasileiro.
Ao falar do posto que futuramente será deixado por Marta, sua colega de seleção, a jogadora do Barça vê como improvável que alguém substitua a meia-atacante com a camisa amarela. “Só vai existir uma (Marta). Temos que nos preparar para quando ela parar. Mas, queremos fazer história e conquistar títulos importantes. Isso nos ajudará a fortalecer a seleção.”