Embaixadora da iniciativa Femtech no Brasil acredita que é necessária uma postura mais assertiva e agressiva
(InfoMoney, 16/08/2017 – acesse no site de origem)
Pesquisas de diversas áreas já demonstraram que faz diferença visualizar líderes com características semelhantes às suas para gerar inspiração e impulsionar as buscas por resultados. Meninas têm mais ímpeto para estudar e se desenvolver quando suas mães trabalham, por exemplo.
No caso das mulheres, detentoras de apenas 10% dos assentos de comitês executivos em empresas brasileiras, e 37% dos cargos de direção e gerência, aquelas que já possuem certo espaço precisam se impor de forma a realmente tomar as cadeiras dos cargos mais altos e inspirar as gerações posteriores.
Essa foi uma das conclusões a que chegou o painel Femtech do evento Fintouch, focado em startups financeiras, nesta terça-feira. Para Stéphanie Fleury, embaixadora da iniciativa Femtech Brasil e diretora da Din Din, falta uma postura mais agressiva para que mulheres realmente se sobressaiam nos campos em que são especialistas e deixem claro que “são elas que mandam”.
“Quando começamos a organizar esse evento, recebi diversos e-mails de homens e das assessoras de imprensa desses homens pedindo espaço, perguntando se podiam ser painelistas, e não tínhamos nenhuma mulher”, relata Stéphanie. “Mulheres não fazem isso, a gente está fazendo isso errado: precisamos nos impor”, crava a executiva.
“Mimimi”?
Mulheres brasileiras ganham salários 19% menores que os dos homens, trabalham 20 horas semanais a mais nos afazeres de casa e muitas vezes são preteridas nas escolhas para cargos mais altos por razões não profissionais.
Ainda assim, para Priscila Titelbaum, diretora do escritório de advocacia Neo Law, as próprias mulheres estão cansadas do discurso de vítimas. “Tudo isso pode até ser verdade, mas é um discurso que a gente precisa superar. Dê a cara a tapa, se livre dos escudos que as oportunidades vão aparecer”, disse.
Priscila conta que, embora já esteja em posição de chefia, sente a necessidade de agir de forma a mudar determinados comportamentos do mercado de trabalho. Em sua empresa, cuja diretoria é composta por quatro mulheres e um homem, costuma escutar de clientes e parceiros a expressão “as meninas da Neo Law”. A isso, ela rebate: “não somos as meninas da Neo Law. Somos advogadas, competentes e queremos ser vistas de igual para igual sem nos preocuparmos com o que eles estão pensando da nossa imagem durante uma reunião”, explica.
Laura Constantini, da Astella, concorda que a postura de vítima é prejudicial para a ascensão das mulheres no âmbito executivo. “As mulheres trabalham 25 horas a mais dentro de casa, mas isso não precisa acontecer. O casamento é um contrato como qualquer outro. Você deve sentar com o seu marido e combinar uma divisão” que abra espaço para ambos terem espaço para o desenvolvimento profissional.
Olhar amplo
Nem sempre o “sentar e conversar” funciona entre todas as configurações familiares, e é também disso que vem o exemplo. “Eu e as minhas amigas não somos vítimas tão fortes desse sistema, mas vivemos em um contexto onde ainda há muita violência doméstica, 40% dos lares são geridos apenas por uma mulher”, relembra Carolina Sandler, fundadora do site Finanças Femininas.
Para ela, a cultura é responsável por boa parte da discrepância no mercado. “Mulheres não estão tanto em eventos de empreendedorismo, em redes de negócios, porque é muito mais fácil ainda para o homem se desligar de certas coisas. Elas são mal vistas quando fazem isso”. Quando isso acontece, a mulher que possui espaço em ambientes de negócios deve se portar de maneira mais incisiva, de acordo com as empreendedoras. “Nossa tendência é ter uma postura de boazinha. A mulher acha que se ela chegar falando de business ela vai assustar, vai chocar. Não tem que ser assim. Temos que ter uma postura mais agressiva mesmo, nos impor”, defende.
Paula Zogbi