Luana Génot, diretora executiva do Instituto Identidades do Brasil (ID-BR), explica os resultados de um levantamento que mapeou os efeitos da pandemia na vida de empreendedoras e profissionais negras
(Celina/O Globo, 09/04/2020 – acesse no site de origem)
Maioria entre a população brasileira, as mulheres negras estão entre os grupos mais vulneráveis aos efeitos da pandemia de coronavírus. De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), elas são 50% mais suscetíveis ao desemprego. Levando em conta esse contexto, o Instituto Identidades do Brasil (ID_BR) realizou um levantamento para entender os impactos da crise provocada pelo Covid-19 para mulheres negras que atuam como empreendedoras ou profissionais em empresas nacionais e internacionais.
A pesquisa, produzida em parceria com Empodera, Empregueafro e Faculdade Zumbi dos Palmares, foi realizada entre 31 de março e 2 de abril, por meio de um formulário online, e contou com 243 respondentes de 19 estados e do Distrito Federal. A maioria das participantes (72%) se encaixa no perfil das empreendedoras. Entre elas, o estudo mostrou que 79,4% não dispõem de reservas financeiras e 66,3% afirmaram não ter um planejamento estratégico anual para sua instituição.
— Quando cruzamos essas informações somadas a dados do Sebrae, que já realizou uma pesquisa sobre empreendedoras com recorte de raça, percebemos que as mulheres negras muitas vezes não empreendem por oportunidade, mas por necessidade. Isso provoca uma falta de estrutura e de planejamento. Elas não têm reserva nem planejamento anual para projetar seu negócio diante de crises ou de situações adversas — analisa Luana Génot, diretora executiva do ID_BR.
O levantamento também apontou que 44% das mulheres negras empreendedoras têm recursos para manter o negócio ativo por apenas mais um mês. Mais da metade (56%) afirmou que o custo mensal médio de seu negócio está entre R$1 mil e R$5 mil, valor superior ao auxílio emergencial oferecido pelo governo, de R$600.
— O recurso financeiro que elas precisam está acima do valor do “coronavoucher”, então temos uma defasagem em relação aos ganhos que elas tinham e a ajuda do governo que vem para auxiliar empreendedoras nesse perfil. Esse é um dado importante, precisamos pautar ações tanto do setor público quanto privado que possam fomentar essas mulheres, se não elas vão sofrer um impacto bastante forte. Seja ajudando a conectá-las a possíveis compradores dos seus produtos e serviços ou complementando essa renda de alguma forma — defende Luana Génot.
Entre as profissionais que atuam em empresas nacionais e multinacionais, 76,5% afirmaram que o principal temor em relação ao trabalho durante a pandemia de coronavírus é perder o emprego atual. Algumas mulheres também têm medo de ficar doente e não conseguir trabalhar e outras estão receosas em relação à manutenção de ações de diversidade e inclusão no local em que estão empregadas.
“Me preocupa a continuidade dos programas de diversidade e inclusão em um cenário pós pandemia, uma vez que muitas empresas vão estar focadas em lucrar o máximo possível pra compensar o momento atual”, conta uma das entrevistadas que atua em uma empresa multinacional de bens de consumo, em depoimento apresentado no estudo.
Apoio além do financeiro
Se entre as empreendedoras a principal necessidade apontada no momento é garantir o capital de giro (48%), as profissionais empregadas em instituições nacionais e multinacionais dizem precisar sobretudo de apoio psicológico (39,7%) e de oportunidades de capacitação e educação (27,9%).
— Lembrando que são mulheres que já vêm de uma situação de vulnerabilidade dentro do histórico do Brasil em relação ao racismo institucional. Quando ela consegue se estabelecer numa empresa e acontece uma pandemia como essa, ela tem o medo de perder o cargo e sofre um grande impacto psicológico — explica a diretora executiva do ID_BR.
As organizações que realizaram o levantamento também criaram uma cartilha reunindo orientações e iniciativas voltadas para apoiar mulheres negras empreendedoras e profissionais durante e após a pandemia de coronavírus, que ficará disponível no site do ID_BR. O documento ensina como se inscrever para receber o benefício do auxílio emergencial, lista opções de linhas de crédito para empreendimentos, espaços para divulgação de negócios, iniciativas de mentoria e fundos de fomento e doação.
Além disso, canais com dicas sobre finanças pessoais, capacitação, saúde mental e autocuidado também estão reunidos na cartilha, que ainda oferece opções de cultura e lazer gratuitas e conteúdos infantis para mulheres que precisam trabalhar enquanto cuidam dos filhos. Para quem quer ajudar, o guia também apresenta iniciativas que estão arrecadando doações.
Por Raphaela Ramos