Estudo aponta que mais da metade das médicas oncologistas já sofreu discriminação de gênero

12 de maio, 2025 Folha de S. Paulo Por Angela Boldrini

Pesquisa de sociedade médica brasileira mostrou que 24% das especialistas afirmam ter passado por assédio sexual

Em uma reunião de trabalho, a médica oncologista Joana terminou de fazer uma argumentação contrária ao fechamento de um contrato que, ela argumentava, iria resultar em pior tratamento para os pacientes do hospital onde ela ocupava uma posição de liderança.

“Eu levei muitos dados, números e, quando terminei, ouvi que deveria fazer uma apresentação menos emotiva”, conta a médica, que não se chama Joana, mas prefere não se identificar por medo de sofrer represálias dentro do trabalho.

Em outra reunião, foi interrompida grosseiramente ao tentar expressar uma opinião divergente em uma sala de maioria masculina. “Essas são apenas algumas situações que eu passei ao longo da minha carreira, e acredito que seja sim por eu ser mulher”, diz.

Um estudo da Sboc (Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica) publicado na revista científica americana Global Oncology, em abril, aponta que a experiência de Joana não é isolada. De acordo com os dados, 55,5% das mulheres oncologistas que responderam ao questionário disseram ter sofrido discriminação de gênero na profissão —entre os homens, 1,8% afirmaram a mesma coisa.

Além disso, outros dois números chamaram a atenção das pesquisadoras: 50% das respondentes afirmaram ter sofrido assédio moral no trabalho, e 24% reportaram assédio sexual. A quantidade de homens que afirmaram ter passado pelas mesmas violências foram 21% e 7%, respectivamente.

O estudo ouviu 146 mulheres e 56 homens entre os 2.125 membros da Sboc, em um questionário enviado por email. As pesquisadoras fazem uma ressalva em relação à amostragem, que é de cerca de 10% do total, e com adesão menor de homens. Mas afirmam que estudos feitos com questionários costumam ter amostragens menores, e que os resultados são um ponto de partida interessante para novas pesquisas.

“E também, infelizmente, a gente observa uma certa recusa ou uma certa dificuldade de se abordar esse tema tanto para homens quanto para mulheres”, afirma Daniele Assad Suzuki, que coordenou a pesquisa.

Ela diz que a ideia de pesquisar a igualdade de gênero no campo da oncologia surgiu a partir da percepção de que outros países estavam começando a medir as dificuldades para mulheres na medicina. “E o que nos causou até uma certa perplexidade foram os resultados de assédio moral e sexual”, diz Suzuki.

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