(Valor Econômico, 15/10/2015) Há uma combinação extensa de fatores que contribuem para a desigualdade de gênero no mercado de trabalho, a maioria enraizada em aspectos culturais e comportamentais que não mudam da noite para o dia. O número crescente de grupos de discussões trazendo o assunto para as agendas das empresas no Brasil, entretanto, indica que hoje há, ao menos, a percepção de que investir na diversidade em todos os níveis é importante para os resultados das companhias.
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Um amplo estudo da consultoria McKinsey quer avançar esse debate, quantificando a contribuição que o fim da desigualdade de gênero traria para a economia como um todo. Ele também identificou quais os principais aspectos econômicos, sociais, culturais e legais que impedem o avanço nessa área. No Brasil, os entraves relacionados ao mercado de trabalho estão entre os mais fortes.
No país, as mulheres são 44% da força de trabalho, mas contribuem com apenas 35% do Produto Interno Bruto (PIB), número similar à média global e a da América Latina. A diferença se dá porque a carga horária das mulheres é, no geral, menor do que a dos homens e porque as profissionais estão distribuídas em setores e segmentos menos produtivos e cargos mais baixos.
Se o país conseguisse atingir seu potencial completo de inclusão de mulheres até 2025 igualando a participação delas na força de trabalho com sua porcentagem na população, de 51%, equilibrando a participação em setores mais produtivos e aumentando a carga horária isso representaria um incremento de 30% do PIB à economia brasileira.
Outro cenário desenhado pelo estudo projeta a inclusão de forma a refletir o conjunto de melhores práticas da região latinoamericana, ou seja, uma meta mais próxima e possível para o país. Nesse caso, a contribuição seria de 14% do PIB. “Seria como adicionar um novo Nordeste à economia”, afirma Tracy Francis, sóciadiretora da McKinsey no Brasil.
Globalmente, se mulheres participassem da economia da mesma forma que os homens até 2025 o potencial completo o PIB mundial receberia US$ 28 trilhões, o equivalente às economias dos EUA e da China combinadas. Caso todos os países refletissem as melhores práticas de suas regiões, esse incremento seria de US$ 12 trilhões.
Desenvolvido em parceria com ONGs, empresas, acadêmicos de universidades como Harvard e representantes de organizações como o FMI e a ONU, o estudo identificou os 15 indicadores que mais contribuem para a desigualdade de gênero em 95 países que possuem 93% da população feminina mundia
Deles, 40 países têm níveis altos em pelo menos metade dos indicadores. A América Latina teve desempenho mediano. Um terço dos indicadores se refere à participação da mulher no mercado de trabalho, que está intimamente ligada à igualdade de gênero na sociedade uma não será alcançada sem a outra, diz o estudo.
No Brasil, alguns dos maiores índices de desigualdade são relacionados ao ambiente profissional, como a discrepância entre salários, a participação de mulheres na força de trabalho como um todo e a presença delas em cargos de gerência, direção e comando. A desigualdade é considerada alta ou extremamente alta pela pesquisa em todos esses pontos.
O mais grave, contudo, é o trabalho não remunerado, como cuidar da casa, de filhos ou de membros mais velhos da família, que ainda é realizado majoritariamente pelas mulheres. “Quando se observa os gargalos, a dupla jornada é extremamente importante. Setenta por cento do trabalho não remunerado é feito pelas mulheres. Para resolver isso, é preciso cooperação entre governo, empresas e indivíduos”, diz Tracy. Ações como oferta de creches e a ampliação de políticas de licença maternidade e paternidade são potenciais intervenções sugeridas pela consultoria.
Letícia Arcoverde
Acesse o PDF: Fim da desigualdade de gênero poderia melhorar economia (Valor Econômico, 15/10/2015)