(Folha de S. Paulo, 06/05/2015) Quase três quartos das mães americanas trabalham fora, e 41% dos adultos dizem que o aumento desse fenômeno é negativo, segundo o Centro Pew de Pesquisas (apenas 22% o acham positivo). Apesar disso, há evidências crescentes de que essas mães trazem benefícios econômicos, educacionais e sociais para as crianças de ambos os sexos.
Isso não quer dizer que as crianças não se beneficiem quando os pais passam mais tempo com elas. Porém, os filhos de pais que trabalham fora também são beneficiados.
Um estudo feito com 50 mil adultos em 25 países mostrou que as filhas de mães que trabalham fora de casa completaram mais anos de estudos e tinham probabilidade maior de estar empregadas, de exercer papéis de supervisão e de receber remuneração mais alta. Já ter uma mãe que trabalha não influenciou a carreira profissional dos filhos homens.
Para os pesquisadores, isso não surpreende, porque espera-se geralmente que os homens trabalhem. Mas os filhos de mães que trabalharam fora passam mais tempo cuidando dos próprios filhos e fazendo tarefas do lar.
“As mães que trabalham sempre se sentiram culpadas, pensando que seus filhos estariam muito melhores se elas ficassem em casa. Mas estamos descobrindo que, quando as mães trabalham, os resultados dos filhos na idade adulta são muito melhores”, disse Kathleen McGinn, professora da Harvard Business School e uma das autoras do estudo. O trabalho das mães “é praticamente uma resposta mágica para ajudar a reduzir as desigualdades de gênero, tanto no trabalho quanto em casa.”
Outros pesquisadores relativizaram essas conclusões.
“O problema é que não sabemos em que essas mães diferiam”, disse Raquel Fernandez, professora de economia da Universidade de Nova York. “Foi realmente o fato de a mãe trabalhar fora que exerceu efeito tão positivo sobre a filha ou foi o fato de a mãe ter estudado?”
O novo estudo faz parte de um movimento que deixou de enfatizar a possibilidade de prejuízos causados por mães que trabalham fora, buscando um entendimento mais nuançado da relação entre trabalho e família.
Uma análise feita em 2010 de 69 estudos conduzidos ao longo de 50 anos concluiu que, de modo geral, as crianças cujas mães trabalharam quando elas eram pequenas não apresentam grandes problemas de aprendizado, comportamentais ou sociais.
Elas tendem a ser realizadoras na escola e a sofrer de menos ansiedade e depressão. Os efeitos positivos foram especialmente fortes no caso dos filhos de famílias de baixa renda ou chefiadas por apenas a mãe ou o pai. Alguns estudos apontaram para efeitos negativos em famílias de classe média ou em que tanto pai quanto mãe trabalhavam.
“Este é nosso melhor indício de que os filhos se pautam pelo exemplo dos pais, recebendo uma mensagem: ‘Este é o jeito de se comportar, esta é a maneira como você pode lidar com as exigências diversas do trabalho e do lar'”, disse McGinn.
Em 25 países, 69% das mulheres cujas mães tinham trabalhado estavam empregadas e 22% eram supervisoras, contra 66% e 18%, respectivamente, no caso das mulheres cujas mães tinham ficado em casa. As filhas de mães que trabalharam ganhavam 6% mais.
Nesses países, os filhos das mães que trabalharam passavam uma hora a mais por semana cuidando de familiares e 17 minutos a mais por semana cuidando dos afazeres domésticos.
O efeito se mostrou mais forte nos países onde as opiniões sobre o papel das mulheres são mais divididas, como EUA e Israel, e nos países onde as atitudes de gênero são mais conservadoras, como Rússia e México. Por outro lado, era mais fraco nos países onde já é maior a aceitação da presença de mulheres no trabalho.
Claire Cain Miller
Acesse o PDF: Mães que trabalham fora beneficiam filhos (Folha de S. Paulo, 06/06/2015)