Pesquisa do LAB, Laboratório de Gênero e Empreendedorismo do IRME, com apoio da Rede Mulher Empreendedora, apresenta o perfil e os desafios das empreendedoras negras no Brasil
Para 71,2% das empreendedoras pretas, o racismo se manifesta ainda mais cruel contra mulheres de pele escura, percepção compartilhada por 60,8% das mulheres pardas. É o que revela a pesquisa “Empreendedoras Negras”, coordenada pelo LAB – Laboratório de Gênero e Empreendedorismo do Instituto RME, com apoio da Rede Mulher Empreendedora, que traça o perfil e destaca os desafios enfrentados por mulheres pretas e pardas que empreendem no Brasil.
Alguns dados da pesquisa Empreendedoras e Seus Negócios 2024, também realizada pelo IRME e RME, se repetem neste novo estudo. Um exemplo é a maternidade: 73% das empreendedoras são mães. No entanto, o número de mães solo aumentou significativamente. Enquanto na pesquisa anterior 37% delas se identificavam dessa forma, agora o índice supera 48% (50,2% das empreendedoras pretas e 46,9% das pardas são mães solo).
No que se refere à idade, 64% das empreendedoras têm entre 30 e 49 anos. Sobre escolaridade, 62,9% das empreendedoras pretas possuem ensino superior, contra 52,5% das pardas.
Em relação ao faturamento, 47,6% das empreendedoras ganham até R$2.000 por mês, sendo 44,6% delas pretas e 51,5% pardas. Já as que faturam acima desse valor representam 37%, com 42,3% das pretas e 30,5% das pardas neste grupo.
“A autonomia econômico financeira é fundamental para as mulheres em geral, mas é ainda mais importante para mulheres negras que são atravessadas violentamente pelo machismo e pelo racismo da nossa sociedade. Apoiar mulheres negras nesta jornada é o trabalho da RME e deveria ser de toda sociedade”, afirma Ana Fontes, empreendedora social e fundadora da RME e do IRME.
Motivações e Desafios
A pesquisa revela que a liberdade para se fazer o que gosta é a principal motivação para o empreendedorismo, seguido por aumentar a renda, independência financeira e flexibilidade de horário. Além disso, 66,6% das empreendedoras afirmam que coletivos e organizações são os principais agentes de apoio e promoção de iniciativas para o empreendedorismo feminino.
Embora o ranking dos desafios seja semelhante entre mulheres pretas e pardas, ganha destaque o Acesso à crédito para mulheres pretas, assim como aparece mais a Discriminação de raça entre elas. Chama a atenção que o Equilíbrio entre vida pessoal e profissional aparece em terceiro lugar para mulheres pardas.
A sobrecarga com trabalho doméstico e familiar é a principal dificuldade no cotidiano, seguida pela falta de crédito e pelo racismo e discriminação. A pesquisa também aponta que 70,7% das mulheres pretas já sofreram discriminação racial no trabalho, assim como 52,8% das pardas.
Um dos depoimentos coletados ilustra as múltiplas barreiras enfrentadas:
“No banco, passei por longo período de humilhação, e meu cadastro não foi aceito. Não tenho restrições em meu nome, pago MEI regularmente, sem atraso. Acabei desistindo de efetuar o empréstimo, meu negócio ficou parado, passei por violência doméstica por questões de abuso patrimonial, estupro marital, violência psicológica. Desenvolvi depressão e ansiedade, meus filhos também. Acabei fugindo do casamento com meus filhos no meio da pandemia com a ajuda de meus entes e outras pessoas. Ingressei no mestrado, e estou retomando minha vida profissional. Racismo e machismo estrutural, institucional imperam na nossa sociedade”.
A Pesquisa Empreendedoras Negras foi coordenada pelo LAB e executada pela Ideafix, que utilizou metodologia quantitativa, com base em 715 respondentes. A coleta de dados ocorreu entre os dias 14 e 18 de outubro de 2024, utilizando autopreenchimento online.