Mulher brasileira evolui em educação, mas ainda enfrenta desigualdade no mercado de trabalho

31 de outubro, 2014

(O Estado de S.Paulo, 31/10/2014) Em 2010, 30,4% das mulheres de 16 anos ou mais não tinham qualquer tipo de renda, enquanto para os homens o porcentual é de 19,4%

Na última década, a taxa de analfabetismo entre mulheres caiu, elas se educaram mais, são maioria no ensino superior, têm distorção menor em relação à idade e à série estudada. Mas isso não eliminou a desigualdade de emprego e renda, quando comparadas aos homens. Em 2010, 30,4% das mulheres de 16 anos ou mais de idade não tinham qualquer tipo de rendimento, porcentual acima do observado para o total da população nessa faixa etária (25,1%) e para os homens (19,4%). Já foi pior: em 2000, 45% das mulheres não tinham nenhuma renda própria. Os dados são do estudo Estatísticas de Gênero, divulgado nesta sexta-feira, 31, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, com base nos dados do Censo 2010.

O estudo aponta que houve um pequeno crescimento do rendimento feminino, o que reduziu ligeiramente as disparidades entre os sexos. Enquanto o rendimento médio dos homens variou 7,8% – passou de R$ 1.471 para R$ 1.587, entre 2000 e 2010; o das mulheres cresceu 12% no mesmo período, de R$ 959 para R$ 1.074 no mesmo período (12%). Mas esse aumento não foi uniforme em todo o País. A média do rendimento de uma trabalhadora do Centro-Oeste era 80,5% maior do que o de uma nordestina.

No Brasil, o rendimento feminino correspondia a 68% do rendimento masculino – pequena redução da desigualdade; em 2000, equivalia a 65%. Mas no Norte e Nordeste essa desigualdade aumentou: passou de 71% para 69% no Norte; e de 72% para 68% no Nordeste.

“A desigualdade do rendimento entre homens e mulheres no caso brasileiro é resultado, em grande medida, de uma inserção, no mercado de trabalho, diferenciada por sexo, com uma maior presença feminina em ocupações precárias, de baixa qualificação, pouco formalizadas e predominantemente do setor de serviços como, por exemplo, o trabalho doméstico”, diz o estudo.

Os menores rendimentos têm sexo, cor e localidade: 50,8% das nordestinas pretas ou pardas têm rendimento de até um salário mínimo, assim como 59,3% das mulheres nas áreas rurais desta região.

O estudo mostra ainda a desigualdade entre as próprias mulheres – o rendimento de pretas e pardas equivalia (R$ 727) a 52% do das brancas (R$ 1.396). Se comparado com o dos homens brancos (R$ 2.086), pretas e pardas ganhavam 35% do rendimento dessa parcela da população – a chamada dupla desigualdade.

A desigualdade entre mulheres e homens, considerando o rendimento médio de todos os trabalhos foi menor (67,7%) do que quando se observou o rendimento total (74,0%) – isso quer dizer que elas têm menos acesso a aplicações financeiras, por exemplo.

Em relação a 2000, as mulheres tinham participação maior na população em idade ativa (aquela que está trabalhando ou procurando emprego). Esse índice passou de 50,1% para 54,6%. Mas entre os homens, a proporção ainda é bem maior: 75,7%. A formalização do emprego (pessoas que trabalham com carteira assinada, militares, funcionários públicos, e pessoas que contribuem para a previdência oficial) foi maior entre os homens. Passou de 51,3% para 57,9% entre as funcionárias e de 50,0% para 59,2%, para os empregados. Quando analisado somente o trabalho com carteira assinada, o homem também foi mais beneficiado: aumentou de 36,5% para 46,5%; já para as mulheres passou de 32,7% para 39,8%.

As mulheres brancas eram maioria entre as trabalhadoras com carteira assinada (58,4% para 40,2%). Há mais pretas e pardas trabalhando como domésticas do que brancas – entre as que têm carteira assinada, 57% eram pretas e pardas, 42% brancas; as pretas e pardas sem carteira assinada correspondiam a 62,3%, e as brancas a 36,5%. Isso demonstra a desigualdade até mesmo entre mulheres na mesma categoria profissional.

Clarissa Thomé

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