Uma pesquisa organizada pela comissão de mulheres da Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil) mostra que para 86% das magistradas federais, a representatividade feminina na carreira é “baixa” (46%) ou “razoável” (40%). Apenas 13% das entrevistadas têm a percepção “boa” e 1% como “excelente”.
(UOL, 07/02/2018 – acesse no site de origem)
Segundo o levantamento, que foi oficialmente divulgado nesta quarta-feira (7), a dupla jornada da mulher (94%), a falta de apoio de maridos ou companheiros quando é preciso mudar de cidade (84%) e o fato de a vida da mulher ser mais afetada pela profissão do que a dos colegas homens (81%) são os principais fatores que impedem uma maior presença feminina na Justiça Federal.
Foram ouvidas 185 juízas federais no período de 25 de julho a 29 de agosto do ano passado. As entrevistadas responderam a um questionário online com 72 perguntas abertas. Segundo a Ajufe, na Justiça Federal, há um total de 1.654 membros, com 1.221 homens (74%) e 433 mulheres (26%).
Sobre a falta de apoio dos homens na hora de se mudar por necessidade do trabalho, as magistradas disseram que, por uma questão cultural, é mais comum uma mulher acompanhar o seu companheiro do que um homem fazer o mesmo. A constatação é recorrente entre as que constituem famílias e aquelas que não têm filhos.
“Mesmo as mulheres que não têm filhos assumem encargos com os idosos da família e outros entes que necessitam de cuidados”, disse uma das entrevistadas.
Outro obstáculo para as magistradas é o peso do cargo nas vida pessoal, diz Clara Mota, juíza federal e coordenadora da comissão de mulheres. “O trabalho impacta a vida pessoal, inibindo a vontade de subir nas bases”, afirma.
Na pesquisa, as magistradas também foram perguntadas se já tinham vivenciado alguma reação negativa por parte de outros profissionais por serem mulheres. Entre as entrevistadas, 55% afirmaram que “sim”, enquanto 32% disseram que “não” e outros 13% das magistradas responderam “não ter certeza”.
Desigualdade na promoção
Para a maioria das entrevistadas (82%), as mulheres têm mais dificuldades para serem promovidas na Justiça Federal em comparação com os homens. Apenas 18% disseram que as magistradas têm menos obstáculos.
De acordo com o estudo, elas afirmaram que enfrentam mais complicações, sobretudo, pelos fatores “ruptura da unidade familiar” (83%) e “distância da família” (73%). Uma das entrevistadas disse que “a necessidade de mudança de domicílio para progredir na carreira é um fator impeditivo do maior número de juízas mulheres”.
Questionadas se já tinham recusado alguma oportunidade de promoção, 35% das entrevistadas responderam que “sim”, enquanto 32% disseram que “não” e aceitaram a promoção na primeira oportunidade. Cerca de 24% delas disseram que nunca tiveram uma oferta e 9% recusaram, pois não têm pretensão de serem promovidas.
Ascensão para segunda instância
Para 74% das mulheres ouvidas pelo levantamento, elas também têm mais dificuldades do que os homens para ocuparem um lugar na segunda instância.
As principais razões, segundo o estudo, são: a baixa quantidade de candidatas mulheres (53%), os desembargadores se identificarem mais com homens (52%) e juízes que contam com mentores nos tribunais (41%). Clara explica que não se trata de mentores formalizados, mas as entrevistadas indicariam que há um maior relacionamento interpessoal e de confiança entre homens.
Para Clara, o estudo alcançou o seu objetivo de conhecer as percepções das magistradas diante de um quadro de desigualdade.
“Quem entra no serviço público acredita que, pelo rigor da seleção, vai encontrar dentro da instituição condições objetivas para evoluir na carreira, mas não é bem assim. As condições de competição entre mulheres e homens não estão iguais”, avalia.
Daniela Garcia