Durante décadas, parecia estar aumentando o número de mulheres que estudam economia, atenuando a persistente escassez de profissionais economistas mulheres nos Estados Unidos. Mas esse progresso está estagnado.
(O Estado de S. Paulo, 09/02/2018 – acesse no site de origem)
Novos dados indicam que a proporção de mulheres que estudam o assunto em universidades americanas estabilizou-se e o grupo de possíveis economistas pode até diminuir. Esse padrão seria perturbador em qualquer campo acadêmico, mas como a economia tem uma influência extraordinária na política pública, isso significa que muitos importantes debates provavelmente serão dominados por homens nos próximos anos.
Em praticamente todos os níveis de treinamento e todas as categorias profissionais em economia, as mulheres são minoria. E elas têm menores probabilidades do que os homens de progredir em cada passo sucessivo ao longo da carreira, então esse desequilíbrio fica mais acentuado em níveis superiores. Esta situação tem sido chamada de “vazamento no duto” (uma metáfora para descrever como as mulheres desaparecem ao longo de certas carreiras), mas, enquanto um número cada vez maior de mulheres entrou nesse encanamento, o número de mulheres economistas continuou aumentando.
Mas um novo relatório da Associação Americana de Economia mostra que, desde a virada do século, não houve aumento na participação das mulheres que entraram no estudo para se tornarem economistas profissionais.
Entre os estudantes do primeiro ano de doutoramento em economia, a participação foi de 32% em 2017 – pouco mudando dos 33% em 2000, de acordo com o relatório. O desequilíbrio é tão grande que em seis dos programas de economia “top 20”, menos de um quinto dos estudantes de doutorado eram mulheres.
Este declínio na participação das mulheres em estágios relativamente iniciais da carreira em economia já está começando a remodelar a área nos níveis mais elevados.
Por exemplo, o relatório, publicado pelo Comitê para o Status da Mulher na Profissão de Economista, da Associação Americana de Economia, mostra que cerca de seis anos após a redução da proporção de mulheres que começaram os programas de doutorado, a proporção de mulheres que completaram o doutoramento também começou a declinar. E sete anos depois disso, a proporção de mulheres entre os professores associados de economia parou de crescer.
A proporção de professoras de economia continuou a aumentar – é agora de 14% nos departamentos com programas de doutorado – pelo menos em parte porque um maior número de mulheres entrou em economia nas décadas de 1970, 1980 e 1990. O final dessa entrada nos anos 2000 deve levar a uma estabilização no número total de professoras.
Tais dados foram compilados por Margaret Levenstein, economista na Universidade de Michigan.
Minha própria análise de dados do American Community Survey, do Departamento do Censo, comprova as tendências identificadas por Levenstein e mostra que algumas delas surgem ainda mais cedo no duto educacional. (Embora eu também atue no Comitê para o Status da Mulher na Profissão de Economia, eu não desempenhei nenhum papel em seu relatório.)
A proporção de mulheres de graduação com especialização em economia em meados do final da década de 1990, como verifiquei, decaiu desde então. Em 2016, apenas 35% dos formados em economia eram mulheres – do mesmo modo que no início da década de 1980 – embora as mulheres sejam a maioria em todos os graus universitários.
O resultado é que a voz das mulheres está subrepresentada.
Janet Yellen é a única mulher a ter trabalhado como presidente da Reserva Federal – e até mesmo Yellen não conseguiu estabilidade em Harvard. Nunca houve uma secretária do Tesouro. Três mulheres ocuparam a presidência no Conselho de Assessores Econômicos, e nenhuma serviu sob um presidente republicano. As mulheres são superadas em número entre os professores em tempo integral nos 20 principais departamentos de economia por uma proporção de 6 para 1. A Universidade de Chicago tem uma professora de economia em tempo integral; na Northwestern não há nenhuma.
Esses estudos forçaram muitos economistas a uma autoanálise, tornando difícil acreditar que no campo exista realmente uma meritocracia. Foram realizadas conversas urgentes em salões de faculdade e corredores de conferências em paralelo com a negociação nacional mais ampla sobre gênero e poder.
Nesta época de acerto de contas, a Associação Americana de Economia emitiu uma declaração condenando a misoginia e, em um relatório recente, reconheceu que “permitiu-se que esse comportamento inaceitável continuasse por meio de tolerância tácita”. A associação recentemente elaborou um código de conduta para a profissão.
A escassez de economistas femininas já teve consequências importantes.
Deve-se levar em consideração as gritantes diferenças de opinião reveladas em uma pesquisa de 2014 sobre economistas profissionais. Um total de 63% das mulheres disse que a renda nos Estados Unidos deveria ser distribuída de forma mais igualitária, em comparação com apenas 45% dos homens. As mulheres economistas estavam 13 pontos porcentuais menos propensas a dizer que o governo dos EUA é muito grande; 18 pontos porcentuais menos propensas a dizer que os Estados Unidos têm regulamentação governamental excessiva; 20 pontos porcentuais mais inclinadas a dizer que os empregadores devem ser obrigados a fornecer aos trabalhadores seguro-saúde e 16 pontos porcentuais com maior probabilidade de dizer que as políticas atuais favorecem excessivamente o crescimento econômico em detrimento da qualidade ambiental.
Talvez mais reveladora tenha sido a questão salarial: apenas 14% das mulheres economistas disseram que a diferença salarial entre homens e mulheres é amplamente explicada por diferenças na educação e escolhas ocupacionais voluntárias, enquanto 54% dos economistas do sexo masculino concordaram com isso.
Outros pesquisadores descobriram que as mulheres economistas são mais propensas do que os homens a assinarem petições que exigem um papel mais ativo do governo na economia.
As economistas tendem a se concentrar em tópicos diferentes daqueles que os homens preferem. Enquanto os homens dominam a macroeconomia, as mulheres são mais visíveis entre aqueles que estudam o mercado de trabalho, a saúde e a educação. A única conferência de economia com participação maioritária de mulheres à qual já compareci foi sobre a economia da infância, um campo focado na escolaridade, estrutura familiar e bem-estar da criança. Se houvesse mais economistas do sexo feminino, certamente seria dada mais atenção a essas questões.
As estatísticas mais impressionantes de todas são as provenientes de uma pesquisa realizada há mais de 20 anos, em que 98% das economistas concordaram com a proposição de que “há uma rede de ‘bons companheiros’ na profissão de economia.” Uma menor quantidade de homens concordou com isso. E sem mais mulheres em campo, é provável que esse tipo de rede persista.