A opinião de um funcionário do Google sobre as políticas de diversidade de gênero da empresa têm provocado polêmica internamente – e agora também do lado de fora.
(BBC Brasil, 07/08/2017 – acesse no site de origem)
Um comunicado interno escrito por um engenheiro de software argumenta que a ausência de mulheres nos altos cargos de tecnologia ocorre por “diferenças biológicas” entre homens e mulheres.
“Precisamos parar de achar que as lacunas de gênero ocorrem por sexismo”, escreveu em um documento que foi bastante criticado, mas que, segundo o autor, recebeu “muitas mensagens privadas” de apoio por colegas do Google.
Publicado em um fórum de discussão interna, o artigo foi divulgado na íntegra em inglês pelo site de tecnologia Gizmodo.
Ele argumenta que “as habilidades de homens e mulheres são diferentes em parte devido a causas biológicas, e que essas diferenças podem explicar por que não vemos uma representação igual de mulheres na tecnologia e em liderança.”
O autor, não identificado, diz que mulheres geralmente “preferem trabalhos em áreas sociais e artísticas” enquanto “mais homens se interessam por programação de computadores”.
‘Não nos representa’
O artigo gerou uma resposta da nova diretora de diversidade do site de buscas, Danielle Brown, diante do “acalorado debate” sobre a questão.
Em um email interno, divulgado pelo site Motherboard, ela disse que o texto “não representava o ponto de vista que ela ou a companhia aprova, promove e incentiva”.
“A diversidade e a inclusão são parte fundamental de nossos valores e da cultura que continuamos a cultivar”, acrescentou.
“Somos inequívocos em nossa crença de que a diversidade e a inclusão são muito importantes para o nosso sucesso como empresa, e vamos continuar defendendo e sendo comprometidos com isto no longo prazo.”
Na rede social, mulheres criticaram o documento e as atitudes sexistas no trabalho de forma geral.
Entre elas, a funcionária do Google Kelly Ellis, que escreveu: “Eu senti isso no Google e fiquei frustrada por eles não agirem sobre essa retórica que prejudica seus empregados”.
E ainda: “Há muitas pessoas no Google que compartilham a visão desse sujeito. Eles fazem avaliações de desempenho e entrevistam as pessoas. Eles discriminam”.
Já Ellen Pao, ex-CEO do Reddit, escreveu no Twitter que está na hora do Google “limpar a bagunça que criou ou que assiste acontecer repetidamente”.
Ela se tornou um símbolo no debate de gênero no Vale do Silício depois de processar sua ex-empresa Kleiner Perkins Caufield & Byers por discriminação.
No site Medium, a ex-engenheira do Google Erica Baker comentou estar “decepcionada, mas não surpresa”.
“Não é um comportamento totalmente novo… O que é novo é que esse empregado se sentiu seguro o suficiente para escrever e compartilhar oito páginas de ladainha sexista internamente”, ela escreveu.
Um relatório sobre diversidade publicado pelo Google em junho mostrou que 69% da força de trabalho é de homens e 56%, de brancos.
Mulheres preenchem apenas 25% dos postos de liderança e 20% dos empregos técnicos, tais como programação de computadores.
Preocupação ampla
Há constantes críticas sobre a cultura sexista e a falta de diversidade no setor de tecnologia de forma geral.
Vários executivos, incluindo o CEO Travis Kalanick, se demitiram do Uber este ano após reclamações de que a empresa não faz o suficiente para conter o assédio sexual.
Em junho, o investidor do Vale do Silício Justin Caldbeck tirou licença de tempo indeterminado depois de ser acusado de assediar sexualmente seis executivas de tecnologia.
“A diferença de influência entre os capitalistas de risco homens e as mulheres empresárias é assustadora, e eu odeio o fato de o meu comportamento ter perpetuado um ambiente hostil (para mulheres)”, escreveu em um comunicado divulgado à época.