Tratar as questões de gênero nas escolas é promover um futuro mais justo e sem violência, defende ONG

16 de junho, 2015

(Católicas pelo Direito de Decidir, 16/06/2015) A violência (física, psicológica e sexual) contra as mulheres e contra a população LGBTI é consequência do sistema de patriarcado, que engloba o machismo, homofobia, lesbofobia, bifobia e transfobia. Estas fobias são reflexos de uma sociedade contaminada por ideologias conservadoras e reacionárias, legitimadas por um pensamento religioso fundamentalista, que desrespeitam mulheres e LGBTIs.

Leia mais: Católicas pelo Direito de Decidir defendem limites ao ensino religioso nas escolas públicas (Católicas pelo Direito de Decidir, 15/06/2015)

Hoje as mulheres têm acesso à escola e trabalho, mas nem sempre foi assim. Esta conquista é recente no Brasil e é fruto da luta do movimento de mulheres por nossos direitos. Mesmo tendo acesso a estes direitos, elas continuam sofrendo discriminações diversas como, por exemplo, o não reconhecimento e valorização de seu trabalho, ganhando salários menores do que os dos homens, mesmo ocupando os mesmos cargos.

Entre a população LGBTI o não acesso à escola e a evasão escolar (ou melhor, e expulsão da escola!) é uma situação gravíssima porque, além de sofrerem discriminação e violência nas ruas e muitas vezes na família, são alvo de violência dentro das escolas. Para entender mais sobre o problema leia a cartilha Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a homofobia nas escolas da UNESCO. A situação para as crianças e jovens transexuais é ainda pior! Nos espaços públicos como a escola, eles são privados de direitos básicos como, por exemplo, usar seu nome social e acessar o banheiro!

No que diz respeito à violência contra as mulheres, até pouco tempo, as pessoas acreditavam que ‘em briga de marido e mulher ninguém mete a colher’. Depois de muita luta, conseguimos que as autoridades brasileiras criassem medidas e políticas para combater e prevenir a violência contra as mulheres, assim como para responsabilizar os agressores como, por exemplo, a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 35% dos assassinatos de mulheres no mundo, são cometidos por seus parceiros. A cada DEZ minutos, uma mulher é vítima de estupro no Brasil. Diariamente, nos deparamos com estes crimes na mídia. Recentemente, quatro meninas foram espancadas, estupradas e jogadas de um barranco na cidade de Castelo do Piauí por adolescentes. Uma delas acaba de morrer. Quantas outras meninas, jovens e mulheres serão estupradas ou mortas até que a sociedade, políticos e religiosos entendam a importância de discutir a questão de gênero nas escolas?

O Brasil lidera o infeliz e absurdo ranking dos países mais homofóbicos no mundo!!! PESSOAS estão sendo MORTAS por serem LGBTIs. Que tipo de cristão pode aceitar esta situação?

Além de disso, a violência de gênero nas escolas impede que essas crianças desenvolvam seu potencial intelectual, gera casos de depressão, agrava a situação da gravidez na adolescência, e atrapalha a prevenção das doenças sexualmente transmissíveis.

Ninguém merece ser agredido por ser mulher ou LGBTI. As pessoas merecem respeito. E é este o grande propósito de se discutir a questão de gênero nas escolas. Para que todas as crianças sejam respeitadas e aprendam a respeitar, a partir da compreensão de que na diversidade reside a maior riqueza da espécie humana. Aprender que somos diversos em muitos aspectos e que essa diversidade não deve ser utilizada para classificar as pessoas, para atribuir valor diferente a cada um de acordo com seu gênero, sua cor, etnia, religião, orientação e identidade sexual dentre outras diversidades, é, em ultima instância, compreender e defender nossa característica fundamental enquanto humanidade.

Portanto carxs leitorxs, diferentemente do que bradam ‘religiosos’ e ‘políticos’ fundamentalistas, ao defender o debate sobre a questão de gênero nas escolas, nós feministas não queremos a extinção das diferenças sexuais ou da família! Queremos, na verdade, que todas as pessoas, desde sua infância, tenham direito à uma vida digna, justa, saudável e sem violência! Queremos que crianças, adolescentes e jovens desenvolvam plenamente sua autonomia e capacidade de reflexão crítica e ação construtiva no mundo! Queremos que elxs não sejam doutrinados por ideologias preconceituosas e fundamentalistas que geram apenas o ódio, a discriminação e a violência! Além disso queremos que elas tenham o direito de decidirem autonomamente sobre quem são e sobre como conduzirão suas vidas.

Nenhuma criança nasce com preconceito ou com o desejo de controlar a vida do outro, estes sentimentos, que podem se transformar em atos violentos no futuro, são construídos ao longo de sua vida. E isto acontece por causa da ação de fundamentalistas que têm infestado nossa sociedade.

Portanto, para nós, qualquer tentativa de excluir o debate sobre a questão de gênero nas escolas ou em qualquer outro espaço público é ato de promoção da desigualdade, preconceito e violência machista e homofóbica.

Na última quarta-feira (10), presenciamos um show de horrores protagonizado por vereadores e setores religiosos conservadores presentes na votação do Plano Municipal de Educação da cidade de São Paulo (PME) na Comissão de Finanças da Câmara Municipal de São Paulo.

O texto do PME, que orientará a gestão da educação na cidade nos próximos 10 anos, foi rejeitado por 7 votos contra 1 simplesmente porque propõe que os profissionais da educação sejam formados para debater questões relativas ao gênero e respeitar a identidade de gênero, orientação e a diversidade sexual dos alunos e alunas. Os vereadores que votaram contra o texto, argumentaram que estavam defendendo a família. Os cristãos conservadores presentes no plenário endossaram este argumento entoando cânticos religiosos dentro da Câmara, apesar de se tratar de um espaço laico. O curioso, senão trágico, foi ver mulheres gritando ‘não’ ao que nomeiam como ‘ideologia de gênero’, mulheres que nem se dão conta de que só estavam ali, ocupando espaço e podendo se expressar, graças às conquistas do movimento de mulheres e feministas que tanto condenam.

Caso o Plano Municipal de Educação da cidade de São Paulo seja aprovado sem a questão de gênero, os vereadores de São Paulo estarão compactuando com o obscurantismo, privando nossas crianças de uma educação emancipadora e condenando nosso futuro a permanência de valores corrosivos da dignidade, fraternidade e justiça.

Todas as pessoas que desejam um futuro melhor para o nosso país precisam entrar nesta luta!

Na próxima sexta-feira, dia de 19 de junho de 2015, às 18h30 participaremos do Ato-debate: Por que discutir gênero nas escolas? que será realizado Câmara Municipal de São Paulo.

Nós Católicas convidamos todos aqueles que, como nós, defendem uma escola laica, plural, democrática e comprometida com a justiça social e a equidade a comparecer a este ato-debate.

Endereço: Câmara Municipal de São Paulo | Viaduto Jacareí, 100 – 1º andar | Auditório Prestes Maia

Evento no Facebook: https://www.facebook.com/events/1006430519376199/

Acesse no site de origem: Tratar as questões de gênero nas escolas é promover um futuro mais justo e sem violência (Católicas pelo Direito de Decidir, 16/06/2015)

Nossas Pesquisas de Opinião

Nossas Pesquisas de opinião

Ver todas
Veja mais pesquisas