(O Globo, 12/11/2014) O Papa Francisco estabeleceu ontem uma nova comissão para tratar os recursos apresentados por sacerdotes acusados de abuso sexual de menores. Um porta-voz do Vaticano anunciou que o escritório será composto por sete bispos ou cardeais.
O novo órgão é uma resposta às críticas de que a tramitação dos processos é lenta demais. O Vaticano recebe quatro ou cinco apelos por mês de “delicta graviora”, expressão usada pela Igreja para definir crimes como abuso sexual de menores por membros do clero.
A nova comissão analisará os apelos manifestados pelos religiosos, enquanto outro escritório do Vaticano, a Congregação para a Doutrina da Fé, continuará responsável por instalar os processos contra sacerdotes acusados de abuso sexual.
Sobreviventes de abuso sexual e estupro aproveitaram a criação da comissão para reivindicar novamente a punição de membros da Igreja que acobertaram os crimes.
SACERDOTE ABSOLVIDO
A instituição do novo painel foi divulgada no dia seguinte ao anúncio de que o tribunal do Vaticano absolveu e reintegrou o monsenhor Richard Lommis, de 68 anos, da Arquidiocese de Los Angeles (EUA). A Igreja investigava havia dez anos seu suposto envolvimento com casos de abuso sexual.
Loomis acabou afastado da Igreja em 2003, quando foi acusado de ter molestado um menino entre 1968 e 1971 em uma escola católica, onde era professor.
A decisão de reintegrá-lo aos quadros da Igreja é incomum, especialmente após um período tão grande de investigações, e logo provocou protestos. O advogado da suposta vítima afirmou ter sido procurado apenas uma vez pelo Vaticano e que sequer foi informado sobre a decisão judicial.
Outro menino disse aos seus pais em 1974 que também foi abusado sexualmente por Loomis. O caso foi relatado ao pároco local, de acordo com documentos da Igreja, mas não teve investigação.
O monsenhor não foi reintegrado a uma paróquia, mas tem novamente permissão para celebrar sacramentos como batismos e casamentos e ouvir confissões. Em 2007, a Arquidiocese de Los Angeles pagou uma indenização de US$ 600 milhões a vítimas de abusos sexuais infantis por parte de sacerdotes.
Procurado por agências internacionais, o advogado de Loomis, Charles Renati, não comentou o assunto.
No início deste ano, o Vaticano revelou que, entre 2004 e 2013, cerca de 850 padres foram afastados devido a acusações de abuso sexual de menores.
Acesse o PDF: Vaticano cria comissão para julgar padres acusados de abuso sexual (O Globo, 12/11/2014)