(Folha de S. Paulo, 30/08/2014) Manifestações racistas dirigidas a jogadores de futebol, que se tornaram frequentes em torneios na Europa, propagam-se também no Brasil. Casos que antes pareciam esporádicos e isolados passaram a se repetir em estádios nacionais com preocupante assiduidade.
As ofensas que partiram de alguns torcedores do Grêmio contra Aranha, goleiro do Santos, durante jogo realizado em Porto Alegre na última quinta-feira, foram mais uma evidência de que esse tipo de comportamento já se incorporou ao repertório da violência que, lamentavelmente, se faz presente nas arenas esportivas.
Não é o primeiro episódio dessa natureza a envolver membros da torcida gremista, mas o problema não está localizado nesta ou naquela agremiação ou cidade.
Em abril, reportagem do portal “Globo Esporte” contabilizava 14 casos de atletas ou treinadores que relataram ofensas racistas em diversos estádios do país num intervalo de 12 meses, até março de 2014. Muitos desses fatos não tiveram suficiente visibilidade, por terem ocorrido em partidas de pouco interesse do público, algumas delas em divisões inferiores.
Não é demais lembrar que manifestações de preconceito também se verificam em outros esportes e não se resumem à cor da pele. Ataques verbais contra atletas homossexuais já ocorreram, por exemplo, no vôlei brasileiro e em diversas modalidades no exterior.
Trata-se de uma questão internacional, à qual o Brasil talvez se sentisse imune por ser um país miscigenado, com tradição de relativa tolerância étnica, em que jogadores negros se destacaram como protagonistas. Se não fosse por todos os outros motivos, ao menos parecia um contrassenso lançar ofensas racistas na terra em que Pelé é chamado de rei.
As motivações dessa minoria certamente dariam margem a estudos sociológicos e psicossociais –e o contexto de rivalidade e do conflito entre torcidas certamente é um fator a ser considerado.
Campanhas contra o racismo têm sido patrocinadas por entidades do esporte, como a própria Fifa, e precisam continuar.
É indispensável, ao mesmo tempo, que se aplique a lei. A Constituição veta a discriminação por sexo, raça ou religião, e a legislação esportiva prevê sanções para os clubes cujos torcedores incorram nesse tipo de delito.
É imperioso que os transgressores sejam julgados e punidos –e o Grêmio, na parte que lhe cabia, agiu com rigor e celeridade exemplares. Só assim a violência e a intolerância serão derrotadas.
Acesse o PDF: Derrotar o racismo, por Editoriais (Folha de S. Paulo, 30/08/2014)