USP lamenta divulgação de hino racista e nega conhecimento de letra

11 de novembro, 2014

(G1, 11/11/2014) A diretoria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto (SP) lamentou na tarde desta terça-feira (11) a divulgação de músicas e letras com conteúdo racista e machista entre os alunos do curso. Desde o dia 8 de novembro, publicações de grupos de estudantes no Facebook denunciaram a existência de um hino da bateria da medicina, conhecida como Batesão, que utiliza termos como “morena gostosa”, “loirinha bunduda” e “preta imunda”.

O caso ganhou repercussão nas redes sociais e virou pauta de uma reunião na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), que discute na tarde desta terça a realização de uma audiência pública para tratar das denúncias. Procuradas pelo G1, a Atlética Acadêmica Rocha Lima e a Batesão não comentaram o caso. Em nota divulgada no Facebook, no entanto, a bateria pede desculpas e diz ser contra “qualquer forma de discriminação e preconceito”.

Em nota divulgada à imprensa, a universidade afirmou que não tinha conhecimento da letra e música, e que o hino não é utilizado pela bateria do curso nos eventos oficiais da universidade. A diretoria confirmou, no entanto, que ao menos “uma das músicas tem letra ofensiva a todo ser humano, e às mulheres de todas as raças”.

A USP também esclareceu que o material entregue aos calouros do curso de medicina, que contém o hino em questão, não se trata do material oficial impresso e distribuído pela Faculdade de Medicina aos ingressantes da universidade. “O que pode ser apurado, preliminarmente, é de que se trata de uma publicação feita por alguns alunos da FMRP-USP, e distribuída aos calouros, com ‘músicas e letras’ elaboradas por turmas anteriores. (…) Vale ressaltar que esta percepção não é somente atual, mas deplorável em qualquer momento da história.”

Diante da carta de retratação publicada pela Batesão, que justificou que o hino foi mantido no material dos calouros por “descuido”, a universidade reiterou que o fato não deixa de ser deplorável. “O fato da alegação que esta publicação foi feita a partir de um arquivo antigo, e de que faltou cuidado na revisão do material, não abona a nossa consideração de que se trata de uma situação lamentável.”

Por fim, a direção da Faculdade de Medicina afirmou que não compactua com atos inapropriados e informou que todos os fatos negativos que chegam ao conhecimento da direção são apurados com “abertura de comissões disciplinares sindicantes e processantes”.

Leia abaixo a íntegra da nota de esclarecimento divulgada pela diretoria da Faculdade de Medicina da USP Ribeirão Preto:

Nota de Esclarecimento

A Diretoria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP) manifesta grande preocupação diante das notícias, veiculadas na imprensa, sobre músicas e letras com conteúdo racista existentes no meio estudantil de nossa Unidade, e faz os seguintes esclarecimentos.

As manifestações públicas dos estudantes de Medicina que temos presenciado nos últimos anos têm, felizmente, direção oposta ao que está sendo noticiado. Corrobora esta afirmação as manifestações havidas, em sua maioria, diante da nossa presença, nos eventos organizados tanto pelo Centro Acadêmico Rocha Lima (CARL) como pela Associação Atlética Acadêmica Rocha Lima (AAARL), as duas associações estudantis da FMRP-USP. As referidas recentes manifestações, positivas, são listadas a seguir:

– Fórum de Ensino 2014 – “Pluralidade na Formação Médica” (05/2014);
– O Básico do Médico: Importância do Ensino Básico e Pesquisa na Formação Médica (08/2014);
– Baile Branco Comemorativo aos 60 anos da AAARL – Encontro com ex-alunos da FMRP-USP (09/2014);
– XV Congresso Médico Acadêmico – CARL – – Deficiências, uma abordagem multidisciplinar (09/2014);
– Show Medicina 2014 – Apresentação da Bateria com valorização da Cultura Negra no Brasil (10/2014);
– XIV Encontro AAARL de Medicina Esportiva – Equipe Multidisciplinar no Esporte (11/2014);

Anualmente, na recepção aos calouros, a FMRP distribui material impresso com informações úteis aos seus novos ingressantes, material este, de cunho oficial, cuidadosamente preparado pela Comissão de Graduação. Logo, a distribuição deste material oficial não deve, e nem pode, ser confundida com outra(s) realizada(s) sem o conhecimento e aprovação da direção da FMRP-USP.

Quanto aos fatos veiculados pela imprensa, o que pode ser apurado, preliminarmente, é de que se se trata de uma publicação feita por alguns alunos da FMRP-USP, e distribuída aos calouros, com “músicas e letras” elaboradas por turmas anteriores. Este material não é de conhecimento da direção da Faculdade na totalidade, mas nota-se que pelo menos uma das músicas tem letra ofensiva a todo ser humano, e às mulheres de todas as raças. Vale ressaltar que esta percepção não é somente atual, mas deplorável em qualquer momento da história. O fato da alegação que esta publicação foi feita a partir de um arquivo antigo, e de que faltou cuidado na revisão do material, não abona a nossa consideração de que se trata de uma situação lamentável.

Temos a convicção que tal “música e letra” não é do conhecimento dos docentes da Faculdade, assim como não era do nosso conhecimento, e nem da grande maioria dos alunos da FMRP-USP. Por outro lado, destacamos que a referida “música e letra” não têm sido utilizada pela “bateria dos alunos” nos eventos estudantis dos quais temos participado. Esta afirmação é baseada na observação do comportamento habitual dos nossos alunos que temos presenciado, quando tem sido identificado um engajamento social muito grande.

Entretanto, este episódio, não deve, e nem pode, ser relevado, mas sim, utilizado para se iniciar um exame de como fatos tão negativos puderam, em algum momento, não terem sido identificados, e devidamente recriminados por toda a comunidade da FMRP-USP. Temos a convicção que os atuais responsáveis pela “bateria” e a AAARL também estão desapontados com este episódio, e com um enorme sentimento de se desculparem com a comunidade da FMRP-USP, e com toda a sociedade paulista, a qual mantém os seus estudos.

A direção da FMRP-USP reitera sua disposição de não compactuar com atos inapropriados, e manifesta que todos os fatos negativos que chegam ao conhecimento da Direção têm sido alvos de abertura de comissões disciplinares sindicantes e processantes.

A sociedade, de uma maneira geral, pode ter certeza que a FMRP-USP continuará sua firme missão de formar profissionais de saúde com capacitação profissional, formação humanística, e envolvimento social.

Prof. Dr. Carlos Gilberto Carlotti Junior
Diretor FMRP-USP

Prof. Dr. Hélio César Salgado
Vice-Diretor FMRP-USP

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