(Folha de S. Paulo, 23/11/2015) Quando era candidato, Fernando Haddad (PT) prometeu entregar 243 novas creches à cidade de São Paulo. Como prefeito, conseguiu deixar prontas apenas 34. Atendeu até agora, portanto, meros 14% do seu compromisso com o eleitorado.
Há famílias que esperam até 840 dias –dois anos e quatro meses– para obter esse serviço essencial do poder público, como em Paraisópolis (zona sul da capital).
O efeito dessa omissão pode ser devastador para a economia doméstica. Mães e pais se veem impedidos de permanecer no emprego, por falta de alternativa para cuidar dos filhos. Ou, então, comprometem uma parcela considerável de seus rendimentos contratando serviços precários de vizinhos.
Haddad não foi o único, não foi o primeiro e decerto não será o último político brasileiro a dizer uma coisa e fazer outra. Todos alegam depois, como faz agora o petista, que lhes faltam recursos para saldar a dívida assumida.
Sob esse verniz de argumento irrecorrível oculta-se arraigada irresponsabilidade administrativa. Com sua experiência como ministro da Educação da presidente Dilma Rousseff (PT), o prefeito tinha plena condição de desconfiar que tal meta se provaria irrealizável.
O alcaide contava com as verbas do Proinfância, programa lançado pelo governo federal em 2007 para ajudar prefeituras a construir 8.787 creches. Apenas cerca de 6.300 saíram do papel –o que não quer dizer que estejam construídas, pois várias se encontram em obras e, de acordo com uma auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União), até 25% delas estão paralisadas.
Os atrasos não surgiram de forma repentina após 2012, quando se realizavam as campanhas eleitorais nos municípios.
E, se as verbas federais minguaram de modo mais acelerado desde então, o que é um fato, isso decorreu da gestão destrambelhada e populista das contas públicas conduzida pelo governo que Fernando Haddad integrava e pelo partido no qual ainda hoje se abriga.
A prefeitura pondera que há 258.617 crianças matriculadas em creches próprias ou conveniadas e que, dessas, 56.595 foram incorporadas após a última eleição (acréscimo de 28%). Continuam na fila, porém, 151.755 desassistidos.
No ritmo observado nestes primeiros 34 meses do governo Haddad, seriam necessários outros 91 –sete anos e seis meses– para zerar o deficit. Se o prefeito prometer agora alcançar tal resultado até o fim do mandato, ou mesmo se jurar fazê-lo num eventual segundo termo, sobram razões aritméticas para duvidar de sua palavra.
Acesse o PDF: Creches para as calendas, editorial da Folha de S. Paulo (Folha de S. Paulo, 23/11/2015)