A Fundação Jean-Jaurès, em Paris, divulgou nesta segunda-feira (19) um estudo sobre agressões sexuais sofridas pelas francesas, com resultados “aterrorizantes”, segundo a imprensa local: 86% das mulheres foram submetidas a pelo menos um tipo de comportamento sexista na rua durante sua vida na França. Algumas, vítimas de estupro, guardam até hoje sequelas do crime.
A média parece chocante para os franceses, porque, além de mostrar resultados expressivos em termos de violência sexual, os números franceses são maiores do que os de cinco outros países juntos, que também foram objeto de estudo na investigação da Fundação Jean-Jaurès: Espanha, Itália, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos.
Para Gilles Finchelstein, diretor-geral da fundação, o número de 86%, é “absolutamente aterrorizante” e “perturbador”. “Tratam-se de “comportamentos extremamente diversos, insultos e até assédio e agressão”, declarou à FranceInfo. Outro destaque desta pesquisa é que 60% das mulheres com menos de 25 anos dizem ter sido vítimas de um desses comportamentos, apenas nos últimos 12 meses.
Seguidas pelas ruas
A situação mais comum, já vivida por três quartos das mulheres francesas: ser alvo de assobios ou ser vigiada insistentemente no espaço público. Em seguida, vêm os insultos e o assédio, sendo que quase metade das francesas já foram vítimas de homens que as perseguem nas ruas. Dados cada vez mais assustadores quando se conta o número de vítimas de carícias não consentidas, que afetam um quarto das mulheres na França.
As vítimas são geralmente jovens (menos de 35 anos), de famílias pobres (muitas são estudantes) ou mesmo de classes favorecidas (metade das mulheres chefes de empresas dizem que já sofreram agressão sexual). A orientação sexual é um fator agravante: mulheres homossexuais ou bissexuais são três vezes mais incomodadas na rua do que heterossexuais e têm duas vezes mais probabilidade de serem molestadas.
A imprensa francesa se pergunta se foi o número de ataques que aumentou ou se foi a palavra das mulheres que se libertou, um ano depois do #Metoo. É muito cedo para saber, de acordo com Gilles Finchelstein. No entanto, o diretor explicou que é “possível” que o que antes não era necessariamente visto como a agressão sexual, seja enquadrado nesta categoria hoje, o que pode explicar a extensão dos resultados do estudo.
A pesquisa foi realizada em uma amostra de 1.004 mulheres na França, em uma amostra representativa da população feminina de 18 anos ou mais. A representatividade foi assegurada pelo método de cotas (idade, ocupação do entrevistado) após a estratificação por região. As entrevistas foram realizadas por meio de questionário online, entre 25 e 30 de outubro de 2018.
Um total de 6.025 mulheres foram entrevistadas em seis países. A representatividade da pesquisa foi assegurada pelo método de cotas (idade e ocupação das entrevistadas) após a estratificação por região.