(Diário Catarinense, 16/02/2016) Desde a notícia, na manhã de terça-feira, da prisão do médico nutrólogo Omar César Ferreira de Castro, de 66 anos, em seu consultório no Centro de Florianópolis, por suspeita de abusar sexualmente de suas pacientes, muitas mulheres criaram coragem para contar que também teriam sido molestadas pelo mesmo homem. É sempre assim: com medo do que pode acontecer, ou por sentirem vergonha e até culpa pelo ocorrido, muitas vítimas preferem calar e guardar para si a dor , a raiva e a humilhação que sentiram na hora do abuso. Agindo desta forma, entretanto, os assediadores acabam sempre se dando bem. Tomara que não seja este o caso. Se confirmadas as denúncias, o mínimo que se espera é que Castro fique bastante tempo preso e tenha seu registro profissional cassado.
O que tem me chamado muito a atenção neste caso é a postura de algumas pacientes, que mesmo desconfiando de que existiam más intenções nas atitudes carinhosas do nutrólogo ao longo do tempo, continuaram frequentando o consultório, sob a alegação de que ele era bom médico, pois as ajudava a emagrecer, sem muitos sacrifícios. Uma paciente escreveu nos comentários de uma rede social: Ele assediava qualquer uma. Como tinha medo de que alguém gravasse as conversas, mandava deixar a bolsa perto da porta. Outra, acrescentou: Sempre achei ele muito engraçadinho nas consultas, com suas piadinhas idiotas, comentário que foi reiterado por uma terceira mulher: Sempre achei ele um abusado com suas piadinhas… O que muito me admira é que elas _ e várias outras mulheres _ tenham voltado para novas consultas com o mesmo médico, que, ao que parece, era bem mais “amoroso” com suas clientes do que prevê o código de ética médica, o qual deve ser cumprido numa relação entre os médicos e seus pacientes.
Uma jovem conseguiu resumir em poucas palavras o que, provavelmente, outras pacientes do médico devem estar sentindo neste momento: Muitas mulheres, assim como eu, estão lendo esta notícia agora e pensando: eu sabia, eu sentia algo. Não eram normais os carinhos dele, os beijos, os abraços. Ele não era um velhinho queridinho e meio taradinho, coisa de velho, como eu pensava. Era falta de respeito sim, e aquela sensação estranha com que íamos para casa, depois das consultas, tinha fundamento. Não sofri um abuso explícito, nem estupro, que bom. Mas o comportamento que ele tinha comigo e com minhas amigas só comprova que tudo isso o que está vindo a tona agora ocorreu de fato.
Várias outras histórias estão aparecendo, como é comum em casos assim. Que toda a verdade seja conhecida e que a impunidade não prevaleça, como já vimos acontecer tantas vezes no Brasil. Fica, porém, uma lição. Sempre que desconfiar que está sendo vítimas de um abuso sexual, seja de quem ele partir, a vítima deve denunciar, ou, se tiver medo de represálias, pedir ajuda para alguma pessoa de confiança. Reagir, porque só assim esse tipo de crime poderá ser combatido. Ficar em silêncio não vai trazer a dignidade de volta. Só quem ganha com isso é o abusador.
Acesse no site de origem: Abuso sexual: o silêncio das vítimas só contribui para a impunidade, por Viviane Bevilacqua (Diário Catarinense, 16/02/2016)