(Rede Brasil Atual, 04/05/2016) ApuraApós 28 dias de ocupação da sede da Superintendência de Assistência Social da Universidade de São Paulo, um grupo que vive no Conjunto Residencial da USP (Crusp) teve sua principal pauta de reivindicação atendida: foi autorizado a criar uma comissão autônoma, referendada pela instituição e formada só por mulheres, para apurar casos de violência contra a mulher dentro da moradia estudantil.
O Crusp tem pelo menos um agressor de mulheres em cada andar – ao todo são seis blocos, com oito andares cada um, de acordo com dados preliminares de um dossiê preparado pelas próprias estudantes. Os 42 agressores levantados até agora não representam, no entanto, a totalidade de casos: alguns chegam a ter cinco boletins de ocorrência registrados.
Já são pelo menos 50 ocorrências, desde 2013, levantadas a partir de boletins e relatos de vítimas, incluindo casos de violência sexual, física e psicológica. Entre as agressões levantadas estão exigência de relações sexuais como moeda de troca para ter acesso a uma vaga em um apartamento – que é prioritariamente direcionado para alunos e alunas de baixa renda que vêm de outras cidades – e perseguições até a porta de casa.
O último caso notificado ocorreu na madrugada de 6 de abril, quando uma aluna foi espancada pelo namorado e por mais um homem na cozinha coletiva do bloco destinado aos alunos da pós-graduação. Como resposta, um grupo de alunas ocuparam a sede da Superintendência de Assistência Social. E continuaram no prédio até dia 13, para estruturem o regimento interno a comissão de investigação, o que tem ocorrerá em plenárias abertas.
As manifestantes se reuniram algumas vezes com o superintendente de Assistência Social, Waldyr Antônio Jorge, que a princípio havia convocado ele mesmo uma comissão, formada por um professor e três funcionários. Com a pressão das estudantes, ele voltou atrás e referendou a comissão autônoma formada por mulheres eleitas diretamente por estudantes.
“O mais importante de ter essa comissão autônoma é que ela vai apurar os casos independente da Assistência Social da USP, que muitas vezes abafa as ocorrências. Ela faz um desserviço e em vez de incentivar as mulheres a denunciar e fazer boletins de ocorrência motivam ao contrário, porque não querem ter esses casos na universidade”, diz uma estudante. “A comissão vai, inclusive, debruçar sobre documentos antigos, para que as investigações sejam reabertas, com acesso a todos os documentos.”
A USP tem até sexta-feira (6) para baixar a portaria que autoriza a eleição da Comissão de Violência de Gênero no Crusp, que terá cinco alunas, três professoras e duas servidoras do Campus.
Na ocupação, haverá uma série de aulas públicas. A primeira foi ontem (3), com a filósofa Marilena Chaui. Hoje quem ministrará a aula, sobre opressão das mulheres negras, é a também filósofa Djamila Ribeiro. Na sexta (6), a aula pública ficará a cargo da psicanalista Maria Rita Kehl, que abordará a violência contra a mulher e a anulação da subjetividade. Os encontros ocorrem às 19h30, na sede da Superintendência (Rua do Anfiteatro, 295).
Ao todo, 67% das estudantes universitárias brasileiras já foram alvos de agressões por parte de colegas dentro dos campi em que estudam, aponta a pesquisa Violência contra a Mulher no Ambiente Universitário, realizada pelo Instituto Avon, em parceria com o Data Popular, e divulgada em fevereiro.
Foram ouvidos 1.823 universitários dos cursos de graduação e pós-graduação de ambos os sexos entre setembro e outubro de 2015. Segundo o levantamento, 37% dos universitários revelaram já ter cometido algum ato de violência contra as estudantes.
Ações serão autônomas, desatreladas na administração da universidade. Moradia da USP tem pelo menos um agressor de mulheres em cada andar – ao todo são seis blocos, com oito andares cada um
Sarah Fernandes
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