(El País Brasil, 02/06/2016) Milhares de mulheres e homens foram à Paulista em protesto contra o estupro coletivo no Rio. O EL PAÍS colheu depoimentos dos que marcharam contra a “ditadura do medo do machismo”.
Leia também: O que já se sabe sobre o estupro coletivo no Rio de Janeiro (El País Brasil, 02/06/2016)
– Mulheres fazem protesto em São Paulo contra estupro e violência de gênero (Folha de S.Paulo, 02/06/2016)
– Cinco mil protestam contra o machismo e o estupro na Paulista (O Estado de S.Paulo, 02/06/2016)
– Como o mundo lida com o estupro? (TV Estadão, 02/06/2016)
“Nós, da primavera feminista, viemos dar um recado: a cada 11 minutos uma mulher é estuprada no Brasil. A cada 11 minutos uma mulher é estuprada no Brasil e a culpa nunca é da vítima”, gritaram elas, em jogral, diante do Masp na av. Paulista em São Paulo. Foram as vozes multiplicadas que deram o início à marcha de uma multidão de mulheres e homens nesta quarta-feira para protestar contra o machismo e lembrar do estupro coletivo sofrido por uma adolescente no Rio de Janeiro da semana passada.
Muitas mulheres se emocionaram e choraram, numa mistura de raiva e comoção pela grandiosidade do ato – a Polícia Militar não divulgou estimativa, mas o grupo cortou a avenida e terminou lotando a Praça Roosevelt, no centro, já sob chuva. Assim como no ano passado, no despontar do que ficou conhecido como a “primavera feminista”, o grito era feroz, de quem há muito tempo engole cantadas nas ruas, machismo em casa e no trabalho e quer ver seus direitos respeitados. Como no ano passado, Eduardo Cunha, presidente afastado da Câmara, e coautor de um projeto de lei que dificulta o atendimento às vítimas de estupro, foi lembrado pelas manifestantes, que pediram sua saída. A advogada Ana Lúcia Ramos, 45 anos, levou a filha Carla Vitória, 9 anos para “aprender. Veja o depoimento.
“Nem recatada, nem do lar, a mulherada está na rua pra lutar”, era um dos gritos entoados, lembrando de um perfil da revista Veja que rotulou a primeira-dama interina, Marcela Temer, de “bela, recatada e do lar”. Muitos dos manifestantes entoaram “Fora Temer” e criticaram o Governo interino. Carol, de 21 anos e estudante de uma universidade federal, afirmou que, independentemente da conjuntura política, é importante a mobilização das mulheres.
No caminho da manifestação rumo à rua da Consolação, havia um outro protesto, do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), naquela altura da avenida. O movimento ocupou o escritório da presidência, o que casou repressão policial poucas horas antes da marcha das mulheres.
Depois de uma breve divisão, a marcha seguiu pela rua Augusta. Débora, de 20 anos, disse que era importante se manifestar por causa do número de estupro – 47.000, considerando apenas os denunciados em 2014, de acordo com o Anuário de Segurança Pública.
“Segura, segura, segura seu machista, a América Latina vai ser toda feminista”, mexeu com uma, mexeu com todas” e “que contradição, aborto é crime, homofobia não” foram algumas das palavras de ordem do que algumas chamaram de começo do “Junho Lilás”, uma referência à cor do movimento feminista e aos megaprotestos de 2013. Ao longo do percurso, as manifestantes contaram até 33, para lembrar do estupro coletivo do Rio – em um de seus depoimentos, a vítima, agora sob proteção federal, disse ter sido agredida por 33 homens armados. A polícia diz que o vídeo da violação distribuído nas redes prova o estupro e investiga quantos participaram do crime. “São 33 contra todas”, dizia um cartaz. Entre a maioria de mulheres, muitos homens foram protestar. Juco, 18, diz que a presença masculina era importante: “Lutamos por igualdade para todos.”
Marina Rossi. Ilustração que Ale Kalko fez para uso na mobilização feminista.
Acesse no site de origem: As vozes da multidão que grita contra a cultura do estupro em São Paulo (El País Brasil, 02/06/2016)
NOTA DA REDAÇÃO: Houve atos também em Aracaju, Brasília, Belo Horizonte, Campo Grande,
Cuiabá, João Pessoa, Porto Alegre, nas cidades paulistas de Bauru, Bertioga, Campinas e Limeira, e em Maringá/PR.