Jornalista Luciana Araújo, militante feminista que atua no Núcleo Impulsor da Marcha das Mulheres Negras, afirma que é necessária uma compreensão mais abrangente do conceito de violência
Agressões contra mulheres devem ser analisadas dentro de um contexto mais amplo. No caso brasileiro, de uma sociedade fundada sob a violência, sobretudo na colonização e no período de escravidão. O próprio desenvolvimento econômico do país é marcado pela hierarquização de vidas em favor do acúmulo de capital. Portanto, é necessário compreender que os ataques às mulheres têm um vínculo histórico com a realidade brasileira de violência.
Esta é uma das análises feitas por Luciana Araújo, jornalista e militante feminista que atua Núcleo Impulsor da Marcha das Mulheres Negras, durante a gravação da Aula Pública Opera Mundi sobre Como Enfrentar a Violência Contra a Mulher.
“Apenas em 2015, conseguimos incluir na legislação a tipificação do feminicídio e, mesmo assim, a medida ainda é vista como um exagero por uma parcela da sociedade. É muito diferente uma morte resultante de violência urbana ou de conflitos socioeconômicos do que você matar alguém por sua condição de existência. Estamos falando de mortes motivadas pelo pelo fato de serem mulheres. Todos dias morrem mulheres em razão de ‘deixar de fazer o jantar’, ‘não arrumar a cama’ ou ‘porque o marido não aceita a separação’. Debater isso é o primeiro passo para reverter esse quadro”, afirma Luciana.
Para especialista, também é necessária uma compreensão mais abrangente sobre o que é violência. Casos contemporâneos, como acesso às senhas de redes sociais ou ameaças simbólicas, exemplificam que as agressões não se limitam apenas aos ataques físicos.
“Há casos de mulheres que suicidaram após o vazamento de imagens nas redes sociais. Portanto, não podemos tratar o assunto apenas como violência virtual, pois há episódios com desdobramentos claros para o mundo real. Debater essa nova realidade é fundamental para reverter o quadro de um país que é o 5°, em 84 países, que mais mata mulheres. E o 1° colocado que mais mata travestis e transsexuais. E são mortes que estão associadas ao que é feminino nessas pessoas e nesses corpos”, afirma Luciana.