Dados dos últimos anos apontam que o preconceito impacta desde o planejamento reprodutivo até o parto e puerpério da mulher negra no país
Mulheres pretas têm quadris mais largos e, por isso, são parideiras por excelência. Mulheres pretas são mais fortes e mais resistentes à dor. Ideias equivocadas como essas parecem extraídas de algum manual de Medicina obsoleto de tempos passados, mas ainda pairam em hospitais e maternidades de todo o Brasil. E as consequências – desastrosas, traumáticas e, na pior das hipóteses, mortais – têm nome: racismo obstétrico.
Em pleno 2023, quando o conceito de parto humanizado é tido como um direito de toda e qualquer gestante, o racismo obstétrico atinge milhões de mulheres no país ao seguir preceitos do chamado racismo científico (ou biológico). Trata-se de uma corrente de teorias que surgiram no século XIX – e que mais tarde se mostraram infundadas e sem respaldo – usadas para estabelecer hierarquias raciais com base em características físicas, como cor da pele, formato do crânio e outras qualidades fenotípicas.
Essa hierarquização servia para justificar a dominação e as condições subalternas a que eram submetidos os povos negros – por serem fortes, podiam aguentar qualquer coisa. A interseccionalidade de gênero e o machismo típico de uma sociedade ainda movida pelo patriarcado culminou no racismo obstétrico.
O trabalho mais emblemático já feito no Brasil a respeito do tema foi feito em 2017 e até hoje serve de referência: o artigo “A cor da dor: iniquidades raciais na atenção pré-natal e ao parto no Brasil”, feito pela pesquisadora Maria do Carmo Leal, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e sua equipe.