15/04/2010 – As pulseiras do sexo, por Contardo Calligaris

15 de abril, 2010

O psicanalista Contardo Calligaris dedicou sua coluna no caderno Ilustrada da Folha de S.Paulo à polêmica sobre o uso e proibição das pulseiras coloridas de silicone, que recentemente voltaram à moda entre as meninas e criaram polêmica no Brasil, ao serem atribuídas às suas diferentes cores um código sexual.

Em seu artigo, Calligaris pergunta: “o que são as pulseiras do sexo? Uma provocação de adolescentes inseguras? Ou será que elas expressam um desejo? Bom, mesmo uma provocação manifesta um desejo. Qual?”.

Contardo Calligaris lembra do código dos lenços usado pela comunidade gay de San Francisco e Nova York nos anos 1970. Estrategicamente colocados no bolso traseiro das calças jeans, as cores correspondiam ao tipo de relação desejada. Para o psicanalista, “os lenços serviam para erotizar o cotidiano, para transformar qualquer passeio ‘inocente’ à padaria da esquina numa possível fantasia erótica”.

“É desta mesma fantasia que se trata no uso das pulseiras do sexo: a fantasia de tornar erótica a trivialidade do cotidiano, cuja massa um pouco cinza, de improviso, poderia ser atravessada por relâmpagos de desejo. No fundo, as adolescentes que brincam com as pulseiras do sexo estão fantasiando com sua própria disponibilidade para a aventura da vida. E é por isso mesmo que elas encontram o ódio de quem não vive”, escreve Calligaris.

Da fantasia erótica o articulista passa para a violência sexual, lembrando os crimes ocorridos em Manaus/AM, onde três jovens que usavam as pulseiras foram estupradas e duas delas mortas,e  em Londrina/PR, onde uma menina de 13 anos foi estuprada.

“Os estupradores e assassinos foram ‘provocados’? Será que as pulseiras, como os decotes e as saias curtas, suscitariam uma atração irresistível e, portanto, violenta? Vamos parar de acusar as mulheres por elas serem estupradas. O estuprador nunca é atraído por suas vítimas; ele só tem o impulso irresistível de acabar com o desejo delas. Por quê? Por raiva de ele não estar, por exemplo, à altura do mundo com o qual fantasiam as meninas com suas pulseiras: um mundo que seja o teatro possível de mil aventuras (sexuais ou não)”, encerra Calligaris.

Acesse a íntegra do artigo: As pulseiras do sexo (Folha de S.Paulo – 15/04/2010)

Saiba mais sobre a polêmica:
Proibição da ‘pulseira do sexo’ gera polêmica (Portal G1 – 04/04/2010)
Pulseira é desculpa para crime, diz psicóloga / 
Polícia do AM pede proibição do uso de acessório (Folha de S.Paulo – 06/04/2010)

Leia também:
16/04/2010 – De que adianta proibir as pulseiras do sexo?, por Ruth de Aquino
15/04/2010 – Sexo para consumo, por Rosely Sayão

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