(Folha de S. Paulo | 22/06/2022 | Por Cláudia Collucci)
Quando recebe no consultório meninas grávidas dos seus estupradores, como no caso de Santa Catarina, a psicóloga Daniela Pedroso, 48, vai para o chão com elas e começa a brincar.
“É ludoterapia [psicoterapia voltada para o tratamento psicológico de crianças], como se eu estivesse diante de outra criança com qualquer outra queixa. São meninas que não entenderam o está acontecendo, que foram estupradas”, diz ela.
Há 25 anos no atendimento a vítimas de violência sexual no Hospital Pérola Byington, do governo paulista, Pedroso diz que os danos psíquicos serão mais severos se essas meninas levarem a gestação a termo por falta de acesso a um abortamento seguro e garantido por lei.
O caso da menina grávida de estuprador e que teve seus direitos violados em Santa Catarina chocou o país e expôs uma sucessão de entraves para fazer valer o direito ao aborto legal. Casos assim são frequentes? Atuo nessa área há 25 anos e já atendi cerca de 12 mil casos de violência sexual. Estupros de crianças não são histórias que a gente recebe todo dia, mas aparecem com uma certa frequência. O que mais me preocupa, porém, são as histórias que não chegam, meninas abusadas que estão se tornando mães. Crianças tendo crianças.