Foi com a jornalista Eliane Brum que iniciei os meus primeiros entendimentos sobre o fato de a Amazônia ser uma mulher. Lendo seu livro “Banzeiro Ókótó, uma viagem ao centro do mundo”, eu pude, junto com ela, refletir sobre o fascínio que o homem tem pela virgindade da mata e pela virgindade do corpo feminino.
O romper a floresta nunca antes tocada é tão invasivo e devastador quanto o romper do hímen que nos envolve e, no caso de muitas mulheres, o rompimento dá ao homem o controle sobre o seu corpo, sobre o seu destino. Como diz Eliane, a palavra virgem, tanto na Amazônia quanto no corpo feminino, está ligada à destruição e, nos últimos dias, conheci muitas histórias de mulheres que tiveram suas vidas devastadas assim como a mata.
Acabo de voltar da minha primeira viagem à Amazônia, e meu destino foi Cruzeiro do Sul e Mâncio Lima, municípios do Acre, estado brasileiro com um dos maiores índices de feminicídios do país. Foram alguns dias convivendo dentro da comunidade indígena Puyanawa, a 200 km da fronteira com o Peru, e mais alguns conhecendo regiões do entorno. Quanto mais perto do Peru, mais longe dos olhos da Justiça brasileira. Se a Amazônia agoniza no Acre, as mulheres também.
A mulher da floresta grita e os ecos se perdem em meio à fumaça da mata queimada. A mulher da floresta está agonizando como cada árvore cortada, como cada ser da mata extinto. Das meninas indígenas grávidas aos 10, 11 anos até a submissão escancarada nos gestos ou no sorriso cálido das mulheres indígenas que conheci.