Em vídeo, alunas da Poli-USP questionam machismo na universidade

13 de abril, 2017

‘Ser mulher dentro da Poli é uma resistência’, opina estudante da Faculdade de Engenharia

No último dia 7, alunas da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo publicaram um vídeo para uma competição da faculdade de Engenharia da USP. O IntegraPoli tem várias missões a serem cumpridas e, entre elas, havia a tarefa de fazer uma versão própria do clipe Survivor, de Clarice Falcão.

(O Estado de S. Paulo, 13/04/2017 – acesse no site de origem)

Gabriela Menin, aluna do quarto ano da Poli, explica que as meninas da Engenharia Civil aproveitaram a oportunidade para trazer a temática do machismo que vivem no dia a dia. “Foi muito fácil reunir porque muitas meninas ficaram interessadas, todo mundo tinha uma história de discriminação de gênero”, afirma. Ela explica que cada uma trouxe objetos e experiência vividas, o que tornou o vídeo muito sincero. A produção foi feita e editada por alunas.

Tanto Gabriela quanto Renata Stabenow, que está no último ano da faculdade, dizem ter ficado surpresas com a repercussão. No YouTube são mais de 140 mil visualizações, além de inúmeros compartilhamentos em páginas no Facebook.

“Estamos bastante chocadas de que teve tanta repercussão, não imaginávamos”, admite Renata. “Estamos muito felizes de isso estar chegando nas pessoas, de elas abrirem a mente, enxergarem o que é e como está posicionada a mulher como engenheira na sociedade.” Com a paródia, elas ganharam o prêmio de melhor vídeo do IntegraPoli.

Gabriela diz que, desde que o vídeo está no ar, elas receberam um retorno bastante positivo dentro da faculdade. “Recebemos muito feedback, inclusive de colegas que disseram que nunca pararam para pensar nisso, que ser mulher dentro da Poli não deve ser fácil”. Além disso, professores também apoiaram a atitude das alunas. Renata reconhece o apoio interno na Poli, mas afirma que leu comentários desagradáveis e machistas sobre o vídeo nas redes sociais.

Cotidiano. “O fato de ter menos mulheres já faz com que o ambiente seja majoritariamente masculino”, diz Renata ao explicar por que considera a Poli um ambiente machista. “Os homens dominam aquele espaço. Nós [mulheres] tentamos nos impor desde que entramos até o minuto que saímos”.

A aluna do último ano dá exemplos da cultura machista que há dentro da faculdade, como brincadeiras na semana de integração que objetificam mulheres. Uma delas, de quanto Renata entrou na faculdade, era fazer com que as meninas, vestindo roupas brancas, lavassem um carro.

O que mais incomoda Gabriela é o machismo velado, isto é, os pequenos comentários do dia a dia. “Às vezes em um trabalho em grupo, em uma reunião, percebo que minha opinião conta menos por ser mulher, que alguns professores esperam menos de mim e de outras meninas e ficam surpresos quando trazemos um trabalho muito bom”, relata.

Para as duas alunas, a cultura machista e os comentários maldosos do dia a dia só vão mudar com a conscientização das pessoas. E esse é o principal objetivo do vídeo produzido por elas.

“Acho que em todas as áreas as mulheres sofrem preconceito por se esperar menos de uma mulher”, opina Gabriela. “Infelizmente, nós temos de provar duas vezes, três vezes que você é capaz, coisa pela qual os homens não passam.”

Renata concorda e complementa: “Ser mulher dentro da Poli é uma resistência e é uma resistência diária. Se impondo, tirando boas notas, mostrando para as pessoas que você tem capacidade e não é só um rostinho bonito. Você está lá para estudar e cumprir seu papel.”

ANITA EFRAIM – ESPECIAL PARA O ESTADO DE S. PAULO

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