Com famílias destruídas, eles vivem luto, traumas e incertezas. Perambulam por casas de parentes, muitas vezes irmãos são separados. Faltam dados para uma política de atendimento prioritário. Mas alguns estados dão passos no tema
Os números alarmantes de feminicídios no Brasil escondem vítimas secundárias: os filhos. São crianças e adolescentes que perdem as mães e, muitas vezes, carregam o trauma de ter presenciado o crime. Na maioria dos casos, também carregam a dor de saber que o responsável pelo feminicídio foi o próprio pai. É o caso dos filhos de Lilia Hermógenes, defensora pública mineira assassinada em 2016, a mando do marido. “A maior dificuldade de todas foi lidar com o mundo. Nada é como a mãe”, afirma a filha Gabriela Campos, hoje com 19 anos.
O Brasil não tem dados oficiais sobre o número de órfãos do feminicídio e tampouco políticas públicas voltadas para atendimento de crianças e adolescentes que tiveram seus lares destruídos. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública do ano passado, 1.341 mulheres foram mortas por feminicídio em 2021. Em 90% dos casos, o autor ou mandante era o companheiro ou ex-companheiro. Os pesquisadores estimam que cerca de 2.300 crianças e adolescentes tenham ficado órfãos em decorrência desse tipo de crime.
Em duas reportagens especiais, o Sul21 apresenta um panorama dos impactos do feminicídio na vida de crianças e adolescentes, os tipos de suporte jurídico, psicológico e social imprescindíveis para atendimento de necessidades materiais e traumas provocados pelo crime, além de iniciativas que têm sido desenvolvidas nesta área.