Insegurança, assaltos, uso de drogas e falta de sinal de celular fazem passageiras evitarem circular pelo local
Mulheres que usam o terminal de metrô e ônibus Itaquera, na zona leste de São Paulo, relatam medo de circular pela região após o assassinato da estudante Bruna Oliveira, 28.
Além do caso que chocou o bairro, usuárias narram outros episódios recorrentes de violência, insegurança e falhas estruturais que tornam o trajeto diário uma ameaça constante.
Estudante da USP Leste (onde Bruna também estudava), Mayra Ribeiro afirma que várias colegas alteraram seus trajetos após o caso. “Não deveríamos ter que mudar nossos caminhos por causa da omissão do poder público”.
Uma publicitária que mora na Vila Carmosina, em Itaquera, afirmou à reportagem viver sob alerta constante. Ela pediu para não ter seu nome divulgado exatamente por questões de segurança. Disse ainda que muitas vezes precisa voltar a pé do trabalho porque o ônibus demora mais de 20 minutos.
Afirmou também que chegou a mudar seus horários para estar acompanhada do noivo na hora de voltar para casa, mas, mesmo assim, segue com medo. Assim como outras pessoas, reclama de postes de iluminação apagados e ausência de policiamento.
Bruna foi vista pela última vez nos arredores da estação no último dia 13. Imagens mostram um homem a abordando no local —o suspeito de ser o assassino da estudante foi encontrado morto esta semana.
Passageiras relatam também falhas frequentes no sinal de telefone no local, o que compromete a comunicação e pode ser perigoso em situações de emergência. Procuradas, as operadoras Tim, Vivo e Claro, associadas à Conexis Brasil Digital, disseram que “possuem antenas de alta capacidade que atendem ao terminal Itaquera e a todo o seu entorno com uma robusta infraestrutura de conectividade”, e que monitoram suas redes para reforços quando necessário.
A ativista ambiental Juliana Costa, moradora de Itaquera desde a infância, também disse que sente medo ao circular pelo bairro onde cresceu. Segundo ela, o aumento de comércios na região não resultou em um espaço mais seguro. “Aqui, as mulheres são privadas do direito à cidade”, afirma ela.
O terminal também é conhecido por registros de assaltos e pela presença frequente de usuários da droga K9, o que contribui para a sensação de insegurança entre os passageiros.
Dados da Secretaria de Segurança Pública mostram que o 65º Distrito Policial (Artur Alvim), responsável pela área do terminal Itaquera, registrou 651 ocorrências de estupro, roubo e furto no primeiro bimestre de 2025 —queda de 6,73% em relação ao mesmo período de 2024, que teve 698 casos. O distrito passou da 29ª para a 31ª colocação entre os 94 da capital em número de crimes.
Apesar da queda em Itaquera, a violência contra a mulher aumentou em toda a cidade. No primeiro bimestre de 2025, São Paulo registrou 10.795 casos envolvendo feminicídio e crimes contra a dignidade sexual —alta de 5,53% em comparação aos 10.229 casos do mesmo período de 2024.