Sob ameaças constantes, mulheres relatam como é estar em um relacionamento abusivo quando o agressor tem o porte de arma
(R7 | 23/08/2021 | Por Fabíola Perez)
A produtora Tainá*, de 42 anos, separava distraída a roupa que usaria na festa de fim de ano da empresa em que trabalhava quando, de costas para a porta do quarto, escutou o engatilhar da arma do então companheiro em sua direção. O medo de morrer naquele momento a paralisou. “Nem virei o corpo”, lembra. A advogada Sueli* se separou do namorado após uma tentativa de agressão física. Tempos depois, ele passou a persegui-la e pressioná-la para retomarem o namoro. O detalhe é que Sueli descobriu que o ex-companheiro, um político do interior de Santa Catarina, havia usado a arma para atirar na casa da ex-mulher ao final do antigo relacionamento.
Tainá e Sueli sobreviveram a essas e outras ameaças durante o tempo em que conviveram com seus parceiros. Outras mulheres, porém, não conseguiram escapar da violência armada. Dos 4 mil casos de óbitos femininos por agressão registrados em média por ano, metade tem como meio empregado as armas de fogo.
O dado foi divulgado em uma pesquisa realizada pelo Instituto Sou da Paz, que revelou que o armamento é o principal instrumento empregado nos assassinatos de mulheres no Brasil. Ao longo das duas últimas décadas, entre 2000 e 2019, a violência armada esteve presente em 51% dessas mortes.
A arma de fogo tem um grande papel intimidador. Dormir com ela embaixo do travesseiro é uma das formas de o agressor controlar a mulher
(CAROLINA RICARDO, DIRETORA EXECUTIVA DO INSTITUTO SOU DA PAZ)