Em janeiro do ano passado, uma vendedora de 33 anos foi morta simplesmente por ser mulher. Ela foi amarrada, torturada e carbonizada dentro do porta-malas de um carro, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, pelo ex-companheiro. Ele, o motorista Ivo Batista Gaudêncio, de 37 anos, com quem a vítima viveu um relacionamento de 13 anos, está preso sob a acusação de feminicídio. Com requintes de crueldade, o assassinato se somou a outros na estatística desse tipo de crime, que teve no ano passado o número mais alto desde 2016 no Estado do Rio: foram pelo menos 101 vítimas. Em 2022, a Justiça também concedeu 28.908 medidas protetivas a mulheres que sofreram ameaças ou agressões — ou seja, uma a cada 20 minutos.
Um dos quatro filhos da vendedora, um estudante de 14 anos, lembra os últimos momentos da mãe e não se conforma:
— Ele batia na gente com frequência. A gente falava para minha mãe se separar, porque ele poderia matá-la em algum momento. Eu fico triste por ver meus irmãos sofrendo. Esse foi nosso primeiro Natal sem ela. Não tem como esquecer como ela morreu. Infelizmente, a gente vai aprendendo a conviver com isso. No dia em que minha mãe foi assassinada, ele pediu para a gente pegar a marreta e o galão com gasolina no quintal, dizendo que seria para consertar o carro. A gente deu. Fico pensando que, se tivéssemos desconfiado, talvez ela estivesse aqui, viva — emociona-se o adolescente.