SP tem recorde no registro de feminicídios, com 166 vítimas até agosto

Blonde woman standing over pink background covering eyes with hands and doing stop gesture with sad and fear expression. embarrassed and negative concept.

Foto: Freepik

14 de outubro, 2025 Folha de S. Paulo Por Paulo Eduardo Dias e Isabella Menon

  • Gestão Tarcísio diz que combate à violência contra a mulher é prioridade e que ampliou pedido de medidas protetivas
  • Número é o maior contabilizado para o período de janeiro a agosto desde 2016

Bruna Freitas Santos, 29, estava com medo de reencontrar o ex-companheiro Bruno Rocha Campos. Ele já havia tentado atropelá-la com uma moto e dizia não querer a filha que tiveram. Na noite de 10 de setembro deste ano, voltou a ameaçá-la: se ela não fosse buscar a bebê em sua casa, mataria a criança.

Acompanhada da mãe, Bruna decidiu ir ao encontro dele. As duas foram assassinadas a facadas. Bruno, o principal suspeito do feminicídio, está foragido.

O caso aconteceu em Cidade Tiradentes, zona leste paulistana, e ilustra o crescimento do registro desse tipo de crime em todo o estado de São Paulo. Segundo dados do Instituto Sou da Paz, os casos de feminicídio aumentaram 9% de janeiro a agosto deste ano em comparação com o mesmo período de 2024.

A pesquisa, baseada em dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP), aponta que 166 mulheres foram assassinadas neste ano, contra 152 no mesmo intervalo do ano passado. O número é o maior para os primeiros oito meses do ano na série histórica —a lei de feminicídio foi sancionada em março de 2015.

O aumento é ainda mais expressivo na capital, que somou 43 mortes de janeiro até agosto, uma alta de 34% em relação ao mesmo período de 2024. As zonas sul e leste concentram a maior parte dos registros. Nos oito primeiros meses deste ano, o estado registrou 1.630 homicídios, um ligeiro aumento em comparação com 2024, que teve 1.625 mortes.

Para a pesquisadora Malu Pinheiro, do Instituto Sou da Paz, o feminicídio apresenta uma dinâmica distinta da violência urbana. “A maior parte dos casos acontece em ambiente doméstico, o que impõe uma dificuldade na atuação das forças policiais para prevenir o crime.”

A maioria dos ataques ocorre dentro de casa (66%) e é cometida com objetos cortantes (51%) —armas de fogo aparecem em 16% dos casos.

Malu afirmou que, além dos casos que terminaram em mortes, as tentativas de feminicídio (quando a vítima sobrevive) também cresceram.

Na avaliação dela, faltam políticas públicas específicas sobre o tema. “O feminicídio não é tratado como um problema que tem essa natureza própria e precisa de intervenções diferentes.”

De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil registrou no ano passado 1.492 vítimas desse tipo de crime —0,7% a mais em comparação com 2023.

O crime é descrito como de “escalabilidade”, ou seja, geralmente precedido por outras formas de agressão. “A violência contra a mulher não parece estar no cerne das políticas de segurança desenvolvidas pelo governo Tarcísio [de Freitas, do Republicanos]”, disse Malu, citando o congelamento de programas da Secretaria de Políticas para a Mulher, como o de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher.

Acesse a matéria no site de origem.

Nossas Pesquisas de Opinião

Nossas Pesquisas de opinião

Ver todas
Veja mais pesquisas