(Agência Aids, 30/01/2016) Um dia, teve uma primeira passeata LGBT, em São Paulo, que não juntou tantas pessoas. No ano seguinte, o número aumentou e seguiu aumentando ano a ano até o evento (em maio ele chega à 20ª edição ) se tornar um dos maiores do gênero em todo o mundo. Os organizadores da 1ª Caminhada pela Paz , com o tema “Sou Trans , Quero Dignidade e Respeito” apostam que vá acontecer o mesmo com este evento, que reuniu, segundo eles, mais de 500 pessoas em passeata da Avenida Paulista até a Câmara Municipal, no centro de São Paulo, neste sábado (30).
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“No ano que vem, estaremos aqui de novo, e seremos mais”, disse Renata Peron, presidente da Cais (Associação Centro de Apoio e Inclusão Social de Travestis e Transexuais ), organizadora da caminhada Até lá, eles esperam que a Câmara Municipal de São Paulo tenha aberto as portas para discutir políticas voltadas a essa população, como exigem no abaixo-assinado entregue ao vereador Toninho Vespoli (PSOL). “Queremos pessoas trans atuando na Câmara. Queremos uma vereadora trans! ”, eram frases que os manifestantes gritavam enquanto o documento era entregue a Vespoli.
“Quero um de nós dentro desta casa, sim”, disse a drag queen Tchaka, apontando para o prédio da Câmara. “Se é uma casa do povo, temos de estar lá também. Eu não quero ser só estatística. A menina morta que ninguém sabe quem é. Nós temos de ocupar todos os espaços e ser respeitados. Quem não nos respeitar, que seja criminalizado.”
Homenagem aos mortos
Minutos antes da entrega do documento, alguns manifestantes se deitaram na rua em frente à Câmara. Ao lado de velas acesas, simbolizaram as pessoas trans assassinadas em consequência de atitudes homofóbicas, como lembrou Bill, ex-candidato a vereador pelo PSOL e defensor dos direitos LGBT.
“Enquanto houver uma travesti ou transexual sendo assassinada, fora do mercado de trabalho, das escolas, dos serviços de saúde, eu estarei lutando por essa causa”, prometeu Bill do alto do caminhão de som, por onde passaram o advogado Dimitri Sales, membro da Comissão da Diversidade Sexual da OAB de São Paulo, a ex-vereadora Soninha Francine, Viviany Beleboni, a modelo transexual que saiu como Jesus Cristo na cruz na 19ª Parada Gay, entre muitos outros que discursaram ao longo da passeata.
“Por ser a primeira caminhada, eu nem esperava que viesse tanta gente”, disse a ativista transexual Amara Moira, 30 anos, do Grupo Identidade, de Campinas. O melhor é que não vieram só as pessoas trans, mas também as cis [de cisgênero]. Se o movimento for só nosso, não vai ter força. Precisamos da população do nosso lado, de apoio, compreensão e respeito para que não nos matem mais.”
Heterossexual, a professora Lúcia Helena Rodrigues viu a passeata descendo a Augusta e, a princípio, achou que era um evento de Carnaval, já que havia muitos foliões indo encontrar seus blocos nas ruas. “Assim que identifiquei que era uma manifestação das pessoas trans me juntei a elas. Claro que apoio o movimento. É um absurdo o preconceito que elas sofrem e sempre ensinei meus filhos a respeitá-las”, disse Lúcia Helena, carregando na mão uma sacolinha de compras do supermercado.
Do Ibrat (Instituto Brasileiro de Transmasculinidade), Thomas Fernando , 21 anos, considerou a caminhada importante para chamar atenção para o pouco acesso da população trans a serviços básicos, como os de saúde, educação e trabalho. “Não existem leis que nos protejam, não conseguimos chegar ao SUS. Eu, por exemplo, como homem trans, estou com dificuldade de marcar uma ginecologista. É preciso haver capacitação dos profissionais de saúde para nos atenderem.”
Lorenze Paz, 21 anos, foi sem camisa, com os peitos à mostra. “Vim assim porque luto por uma sociedade não-binária, em que a sexualidade não seja definida nem pela genitália, nem por seios. Todo mundo é livre para sinalizar o que é”, disse Lorenze, que se define pansexual.
Fátima Cardeal
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